sábado, agosto 16, 2008

Já no Transiberiano

Estamos no Rossia, a maior linha férrea do mundo, que atravessa a Rússia, de Moscovo a Vladivostok. São 8:45. O silêncio é total na minha carruagem. A maioria dos passageiros ainda dorme, por isso, os corredores estão sem ninguém. As janelas, o lugar mais cobiçado do Rossia, por agora, estão completamente disponiveis. Afasto as cortinas e leio o mundo.
Já percorremos 1 434 km mas ainda faltam 4 mil km para chegarmos ao Baikal, a nossa primeira paragem com saída de comboio e dormida no Hotel. Há 14 horas que vivemos em andamento. Dormimos a nossa primeira noite dentro do Rossia. Já estamos completamente acomodados.
A próxima paragem é a cidade de Perm, 1 milhão de habitantes, a «nacionalidade » dos Gulag, uma cidade decadente, como todas as cidades da Sibéria.
De fora chega-nos um sol radioso que ilumina esta paisagem, que alterna entre bétulas e pinheiros ou uma imensidão de estepes. E eu vou intuindo as razões da alma russa, da Russia imperial, da Russia magestática, saudadosa do seu protagonismo internacional.
Nenhum russo abdica de se identificar como cidadão do maior país do mundo. A guia que nos acompanhou em Moscovo pertence ao grupo dos saudosos amantes do regime soviético. Tem mais de sessenta anos e explicava-vos que tinha uma completa incapacidade de ler o mundo segundo o alfabeto da globalização que também afecta o seu país talvez nas piores referências que lhe possamos fazer, como o consumo desenfreado e a obsessão pelo sempre novo.
© Ana Paula Lemos
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