sábado, setembro 06, 2008

2º painel Transmongoliano 2008






















O Rossia é o comboio mais importante da Federação Russa. Primeiro, porque é o único meio de transporte que liga na horizontal e por terra as duas extremidades da Russia, de S.Peterburgo a Vladivostok, perfazendo mais de 9 000 kilometros. Em segundo lugar é o comboio que atravessa a maior linha férrea do mundo. Na Russia, o Rossia, tem uma importancia social, económica e politica incumensurável.
Em torno do Rossia há um século que poetas, novelistas, romancistas, fotógrafos, jornalistas, cineastas constroem uma narrativa que alimenta um imaginário pleno de fantasias e mistérios. O Rossia atravessa toda a Sibéria, a Sibéria Ocidental e Oriental, e demora quatro dias a percorrê-la sem nunca parar, a não ser uma média de 4 a 5 vezes por dia, durante 10 a 12 minutos, nos apeadeiros principais para recolha de passageiros e mercadorias.
Ora a Sibéria é inóspita. A Sibéria é imensa, de uma imensidão assustadora, constante, despovoada e fantasmagórica. Kilómetros e kilómetros de bétolas e pinheiros invadem de dia e de noite a nossa janela.
É por isso que os criadores fixam a Sibéria como uma narrativa povoada de histórias. Talvez seja um dos poucos lugares do mundo onde o real e o imaginário têm uma cumplicidade total. Na imensidão das florestas siberianas o real confunde-se com o imaginário e o imaginário credibiliza o real, se assim não é, a Sibéria é um lugar insuportávelmente inumano.
É o Rossia que permite contar histórias tão belas acerca da Sibéria.












Os viajantes do II Transmongoliano - 13 de Agosto a 1 de Setembro 2008


Estamos no átrio da principal estação ferroviária de Moscovo. Aqui começa o Transmongoliano. A uns metros deste espaço está a plataforma do Rossia. É aqui que aconteçe o primeiro confronto com o diferente. Esta estação é um dos lugares mais decandentes da cidade de Moscovo. Ao fim do dia reunem-se neste espaço os pobres, os alcoólicos, os famintos, os carteiristas, os vigaristas e claro os toxicodependentes e as prostitutas.
Mas são sobretudo os alcoólicos e os famintos que dominam este território de transgressão. Os alcoólicos bebem tudo o que fica nas garrafas. Os famintos devoram todas as migalhas de comida deixadas pelos cantos da gare.
No meio do corropio de centenas de pessoas é aqui que nós, viajantes da Europa Viva, entramos em contacto com a natureza da viagem que escolhemos fazer. Recebemos os nossos sacos de mantimentos, onde estão incluidos todo o tipo de alimentos que nos vão permitir tomar o pequeno almoço, lanchar e almoçar durante os quatro dias que vamos estar consecutivamente no comboio.

sexta-feira, setembro 05, 2008

I painel transmongoliano































Um itinerário humano

O Transmongoliano, o itinerário que nos leva de comboio pela Russia, Mongólia e China, é uma viagem de várias cores, muitos sabores, infinitas experiencias, imensas possibilidades de análise, consoante os nosso património humano, cultural e civilizacional, mas sobretudo uma viagem onde nós mesmos, podemos ser o objecto primordial de reflexão.
Nós, seres humanos em contacto com outros homens radicalmente diferentes de nós (o que pensamos deles, como os olhamos, como agimos e reagimos perante tempos e modos de vida diferentes) nós homens enquanto seres construtores de projectos (que mundo conceptualizamos como lugar de vida) nós cidadãos comprometidos com o futuro, o que dizemos do modo como se está a escrever a história do mundo.
O Transmongoliano é muito mais do que uma simples viagem de comboio pela imensidão da Sibéria, que demora quatro dias a atravessar, pelo deserto do Gobi cujo calor sufoca e desestabiliza durante alguns dias, pela Mongólia, o único país do mundo de paisagem lunar de uma beleza indizível. O Transmongoliano também não é apenas uma viagem onde podemos experienciar como laboratório vivo da história recente, territórios de fronteira, outrora bélicos e conflituosos, lugares insuflados de pobreza, paisagens depressivas, decoradas por seres humanos que nunca pensaram haver outros lugares de vidas diferentes.
O Transmongoliano é muito mais do que uma viagem de comboio que nos leva a atravessar o norte da China, um país belo, imenso, cheio de contrastes naturais, de paisagens humanas dissonantes, mas um país onde se sente o pulsar de vida.
O Transmongoliano também é uma experiencia de vida radical onde nos esqueçemos durante oito dias, os dias em que viajamos de comboio, dos paradigmas do conforto, da posse total do território emocional e afectivo do eu, das máscaras sociais, das dinâmicas de construção de papeis.
O Transmongoliano é um itinerário de descoberta do humano. O Transmongoliano é um percurso que sintetiza a vida.

quarta-feira, setembro 03, 2008

terça-feira, setembro 02, 2008

As crónicas da viagem...


Os ouvintes do Rádio Clube quiseram acompanhar passo a passo a nossa viagem do Transmongoliano. Como muitos dos ouvintes acompanhavam as crónicas da manhã mas já não podiam fazê-lo à tarde pediram à Rádio que colocasse todas as crónicas no site da antena de modo a que pudessem ser consultadas a qualquer hora do dia ou da noite.
E assim foi...todas as crónicas da viagem o Transmongoliano podem ser ouvidas no site do Rádio Clube Português na rúbrica destinada à nossa viagem.
A Europa Viva agradece a todos os ouvintes que nos acompanharam desde o primeiro momento e à Direcção do Rádio Clube todo o apoio na realização deste projecto.

Chegámos!!!

Que viagem fantática esta a do transmongoliano. Chegámos a Lisboa cansados mas cheios de mundo, do mundo.
Há algo que eu gostava de vos dizer depois de ter chegado de uma viagem que nos levou ao centro das grandes transformações do nosso tempo como são os chamados paises emergentes:
- mudou o paradigma histórico politico, social e económico do mundo.
Estejam atentos porque a China já despertou e com o despertar da China algo de muito profundo mudou para sempre, nomeadamente, a importancia dos sistemas politicos da vida interna dos homens.
A China pode estar a desenvolver uma nova forma de organização social e humana que seja fonte de profunas transformações existenciais e que inspire muitas outras sociedades humanas.
Vamos estar atentos. O etnocentrismo chegou ao fim.
A Europa Viva tem um papel importante nesta nova leitura do mundo. Estamos a preparar os programas que nos obriguem a pensar de novo a organização social e humana.

domingo, agosto 31, 2008

Shangai uma cidade plural

Na China nenhum estrangeiro se sente persona non grata. Os chineses acolhem com alegria e mesmo com gentileza os turistas. Na China por mais turistas que haja nunca dao nas vistas. Os chineses sao tantos por todo o lado que quase precisamos de uma lupa para encontrar um europeu ou americano.
Em Pequim foi mais facil...
Mas ha sitios onde sabemos que iremos encontrar seguramente cidadaos estrangeiros: nas arterias principais da baixa da cidade, nos centros comerciais da Pudong, uma ilha de arranha ceus onde esta concentrada a alta financa de Shangai, e nos restaurantes tipo Bica do Sapato na Bund onde Pudong pode ser apreciada na magestade da sua opulencia.
Shangai e uma cidade plural. Nao sei se a Expo 2010 vai purifica-la dos seus males tal como aconteceu em Beijing mas aqui percebe-se a riqueza do tecido social cantones, o que deixa antever uma cidade mais feliz que Beijing.

Domingo em Shangai

Centenas, muitas centenas de pessoas invadem os centros comerciais mais importantes de Shangai. Em cada esquina aqui no centro da cidade ha um centro comercial e todos competem uns com os outros em dimensao e representacao de marcas.
Das marcas de desporto, a Nike e a marca mais querida dos jovens cantonenses, creio mesmo que dos chineses em geral. Os adolescentes chineses adoram roupa desportiva. Os casais de namorados andam com roupas iguais...mas so os mais novos compraram nos grandes armazens ocidentalizados.
Os seus pais e avos continuam a frequentar o pequeno comercio local onde a roupa e de inferior qualidade, muito parecida com a loja do chines que conhecemos em Portugal, mas onde de facto os precos sao infinitamente mais baratos.
Os jovens chineses de Shangai vivem e trabalham para consumir.

Duolun Lun

Nos anos 30 havia em Shangai um bairro onde vivia a elite cultural da cidade de nome Duolun Lun. Hoje visitei este bairro e deixo esta sugestao a todos os visitantes desta cidade. Duolun Lu e um espaco de pouco mais de 2km, quase uma linha recta, no meio de um dos bairros mais importantes da classe media chinesa. Dois arcos, um no principio da rua e outro no fim, tornam Duolun Lun como que uma rua de marca registada onde encontramos as residencias e as esculturas dos escritores e homens de cultura cantonenses mais importantes da decada de 30 e 40 e onde podemos comprar nas inumeras galerias todos os icones relativos a Mao e ao seu magisterio: notas, o celebre livro vermelho, livros e tabuadas.
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