Tenho acompanhado esta viagem iniciada há quatro dias à Sicília, sob o signo das matrizes culturais europeus, com o livro de Goethe (Viagem a Itália) sempre debaixo do braço.
É uma experiência interessante. No fundo, o que faço, é comparar o que vejo àquilo que Goethe viu no século XVIII e que constam de pequenos relatos compilados nesta obra. Tenho a certeza que se Goethe fosse vivo o seu livro teria sido a soma dos post que este autor alemão publicaria no seu blog. É todo esse exercício de literatura comparada que me tem dado um imenso prazer.
Goethe não tem uma palavra sobre Siracusa nesta obra de relatos. Fiquei frustrada. Estou cansada e precisa muitissimo de recorrer às suas palavras para vos falar desta cidade encostada ao mar, com um centro histórico fabuloso, mas urbanamente tão caótica como todas as outras cidades sicilianas que visitámos.
É de facto o que mais incomoda nesta lugar cheio de história é o abismo arquitectónico da herança que nos trouxe, da herança normanda, helénica, romana, e a actual arquitectura, obra do homem contemporâneo, recheada de exemplares que nós portugueses podemos encontrar em qualquer grande dormitório urbano em Portugal.
Quando chegámos a Agrigento para visitarmos o Parque Arqueológico, o conjunto dos três templos mais antigos e melhor preservados da Sicília, e observámos que os templos do Parque estão rodeados por um conjunto de prédios, formando uma massa compacta de mau gosto, metafóricamente comparável ao aglomerado urbano da Damaia, Queluz ou Cacem, não pudemos deixar de pensar na singularidade deste facto. A este propósito o que diria Goethe?
Goethe no século XVIII começou a visita a Agrigento justamente pelo lugar onde hoje a massa de prédios caóticos circunda os templos gregos .