Foi num “embraer” com duas hélices e capacidade para pouco mais que 30 pessoas que chegámos a Gaggar- um pequeno aeroporto com os himalayas ao fundo, um ar respirável, uma temperatura de 22C e uma luz de fim de tarde que só podia ser auspiciosa.
Dali a Dharamshala eram poucos quilómetros, fizemo-lo de carro, mais uma vez com uma boa buzina, uns bons travões e muito boa sorte.
Em 100m de asfalto irregular podemos subir mais de 10m de altitude.
Conhecer o Budismo era o desafio, formulado de formas diversas na cabeça de cada um dos viajantes. A conferência proferida pelo Dr. Chok (ex-monge) e por um monge (em exercício) acendeu algumas luzes mas também trouxe muitas, outras, dúvidas, como aliás acontece sempre…
Tudo converge para esse sofrimento que todo o Homem enfrenta e que Buda quis conhecer e aliviar, recusando-se a definir o método como religião ou filosofia. Uma coisa é certa…Corpo, discurso, mente; causas e condições que provocam o fenómeno; amarras que só com muito conhecimento se soltam. Por isso também e por breves momentos nos exemplificaram o debate, com palmas e movimentos de corpo, que os monges estudantes normalmente praticam, dois a dois, nos pátios dos mosteiros como o de Namgyal, onde reside o Dalai Lama.
À entrada, uma foto registava o encontro ocorrido há poucas horas com Obama. A importância deste encontro é evidente depois de visitarmos o Museu que narra, eloquentemente, com recurso a fotos e textos densos, a luta com mais de 50 anos do povo do Tibete. Confiança e esperança são as mensagens latentes e intemporais daquele povo peregrino, acolhido pela índia.
A visita ao centro onde os refugiados trabalham (Instituto de Norbulingka) e a uma cerimónia de oração (Mosteiro de Tsechokling) foram complementares para a nossa percepção do que está em causa, mas foi particularmente tocante a visita ao orfanato de Nyingtob Ling. Ali estão recolhidos deficientes de famílias pobres do Tibete. Um lugar discreto onde a beleza e o trabalho de quem lá vive é enaltecida pela natureza que o envolve.
Atravessámos a montanha e chegámos agora a Amritsar, a cidade do templo dourado, a cidade dos Sikhs, dos massacres da partilha da India – outra etapa de que falarei mais tarde...
Ângelo Silveira