sábado, dezembro 22, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
Textos Transmongoliano - Os totalitarimos do Século XX
Há um confronto insanável que nos impossibilita de racionalizar a história. De um lado, a vida das minhas leituras. Do outro, as leituras da minha vida. Mas a verdade da minha janela é uma atmosfera cinzenta, sombria, que acolhe mansamente as vozes delapidadas pela crença.
- Acreditámos
- Não, não fui eu que acreditei. Eu, não.
- Nós acreditámos
Mas o que eu vejo da minha janela contraria o enunciado da crença. É a monotonia da decadência que prejudica a retórica da esperança.
Há quatro dias que o comboio não pára. Mas apesar de estarmos a viajar há quatro dias ininterruptamente, ainda só percorremos 5 185 km dos sete mil quilómetros que nos levarão a Beijing.
A Federação Russa, a Rússia, é o maior país do mundo. De um lado ao outro, o comboio percorre mais de novel mil quilómetros, num balouçar manso, às vezes tenso, ditado pela maior ferrovia do planeta.
(que perturbador é auscultar ainda o grito que lhes vêm de dentro)
Trouxe um livro de Martin Amis. Era daqui, da minha janela, que lia as histórias que sopravam d’ A Casa dos Mortos. Estou certa que lá fora ainda se ouvem histórias vivas da Casa dos Mortos.
Neste comboio as pessoas escondem-se, falam pouco, e reservam sempre o seu olhar para o bosque cerrado, cantado e recitado pelos poetas e pelos escritores russos, que nos foram chegando, quando a propaganda do século dizia, quase geometricamente
Literatura + música = crença
Pela minha janela chega-me o desalento da mentira. A Sibéria é um lugar desolador. Não há vida neste lado do mundo. As gotas húmidas deste final de verão trazem lágrimas carregadas de dor que colam o meu coração triste à janela com que vejo e sinto o mundo.
Nada me diz que a Rússia literária, culta, sofisticada, rica em petróleo, gás natural, mora aqui nestes milhares de quilómetros que já percorri. É tão desoladora esta floresta, que revejo em Tolstoi as escravas personagens do Czar.
Essa Rússia da insuportável excentricidade pavoneia-se em Moscovo, mais do que em S. Peterburgo, aterra nas sofisticadas lojas da Praça Vermelha, onde outrora os proletários de todo o mundo compravam nos armazéns do povo as rações que o poder misericordiosamente distribuía: chá, farinha, fósforos, e muitas outras ninharias que a liberdade não avalia mas a tirania amachuca.
- Não, eu nunca acreditei.
Ouço vozes que querem chegar a mim mas estão ainda muito cansadas da crença. «Do credo tirano da foice e do martelo, da luta de classes, da universalidade do homem novo, da mentira burguesa do homem velho, enfim, do credo da sociedade sem classes, do socialismo soviético».
Da minha janela vejo e ouço a Sibéria Ocidental. Não sei exactamente onde se inspirou Martin Amis para escrever A Casa dos Mortos. Mas percebo que todos estes lugares são fontes inesgotáveis de inspiração de almas abandonadas pelo sentido do inumano.
O inumano de Lipovetsky onde as considerações sobre o tempo coincidem absolutamente com o tempo da minha janela.
- Acreditámos
- Não, não fui eu que acreditei. Eu, não.
- Nós acreditámos
Mas o que eu vejo da minha janela contraria o enunciado da crença. É a monotonia da decadência que prejudica a retórica da esperança.
Há quatro dias que o comboio não pára. Mas apesar de estarmos a viajar há quatro dias ininterruptamente, ainda só percorremos 5 185 km dos sete mil quilómetros que nos levarão a Beijing.
A Federação Russa, a Rússia, é o maior país do mundo. De um lado ao outro, o comboio percorre mais de novel mil quilómetros, num balouçar manso, às vezes tenso, ditado pela maior ferrovia do planeta.
(que perturbador é auscultar ainda o grito que lhes vêm de dentro)
Trouxe um livro de Martin Amis. Era daqui, da minha janela, que lia as histórias que sopravam d’ A Casa dos Mortos. Estou certa que lá fora ainda se ouvem histórias vivas da Casa dos Mortos.
Neste comboio as pessoas escondem-se, falam pouco, e reservam sempre o seu olhar para o bosque cerrado, cantado e recitado pelos poetas e pelos escritores russos, que nos foram chegando, quando a propaganda do século dizia, quase geometricamente
Literatura + música = crença
Pela minha janela chega-me o desalento da mentira. A Sibéria é um lugar desolador. Não há vida neste lado do mundo. As gotas húmidas deste final de verão trazem lágrimas carregadas de dor que colam o meu coração triste à janela com que vejo e sinto o mundo.
Nada me diz que a Rússia literária, culta, sofisticada, rica em petróleo, gás natural, mora aqui nestes milhares de quilómetros que já percorri. É tão desoladora esta floresta, que revejo em Tolstoi as escravas personagens do Czar.
Essa Rússia da insuportável excentricidade pavoneia-se em Moscovo, mais do que em S. Peterburgo, aterra nas sofisticadas lojas da Praça Vermelha, onde outrora os proletários de todo o mundo compravam nos armazéns do povo as rações que o poder misericordiosamente distribuía: chá, farinha, fósforos, e muitas outras ninharias que a liberdade não avalia mas a tirania amachuca.
- Não, eu nunca acreditei.
Ouço vozes que querem chegar a mim mas estão ainda muito cansadas da crença. «Do credo tirano da foice e do martelo, da luta de classes, da universalidade do homem novo, da mentira burguesa do homem velho, enfim, do credo da sociedade sem classes, do socialismo soviético».
Da minha janela vejo e ouço a Sibéria Ocidental. Não sei exactamente onde se inspirou Martin Amis para escrever A Casa dos Mortos. Mas percebo que todos estes lugares são fontes inesgotáveis de inspiração de almas abandonadas pelo sentido do inumano.
O inumano de Lipovetsky onde as considerações sobre o tempo coincidem absolutamente com o tempo da minha janela.
(C) Ana Paula Lemos
Dezembro de 2007
Correio Natal
«AGRADEÇO E RETRIBUO COM O CORAÇÃO OS VOTOS DE BOAS FESTAS.
MUITOS PROJECTOS...AFECTOS, UM GRANDE ANO 2008.
OBRIGADA PELO QUE JÁ ME DERAM.»
Maria de Jesus Pires da Rocha
Correio Natal
«...para todos os que a acompanham este projecto votos de Boas Festas e esplêndido Ano Novo.»
Lurdes Fidalgo
quinta-feira, dezembro 20, 2007
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