sexta-feira, agosto 24, 2007

Outros olhares





Na Mong'olia... gare terra...

Antes de mais, desculpem a falta dos acentos...mas de facto nada a fazer com este alfabeto, ainda mais complicado que o russo, embora mais audivel, mais terno e infinitamente mais doce.
Para quem chega da Russia, a Mong'olia e um verdadeiro paraiso de simpatia, hospitalidade, conviviabilidade, (...).
Os ocidentais obrigaram o povo mongol a descobrir o turismo como uma umas suas principais actividades econ'omicas, nao apenas porque durante 1 seculo estiveram tao escondidos como os russos, e por isso, existe uma imensa curiosidade de visitar os herdeiros de Gengis Kan - o pai fundador da identidade mongol e o obreiro do maior imperio do mundo; mas por outro lado, a Mong'olia 'e seguramente um dos pouquissimos paises do mundo quase virgem em materia de turismo, embora seja tao belo que se torna indizivel.
O comboio largou-nos na gare de Ulaan Battor eram 6:15 (hora local). 'A medida que o comboio se aproximava e o dia despontava, descobriamos um pais envolto numa bruma intensa de nevoeiro, por onde emergiam as imensas estepes mong'ois que alternavam com linhas sucessivas de montanhas, cavalos selvagens, e claro as c'elebres tendas mong'ois, as chamadas yourts...Yourts
Est'avamos por isso 'avidos de descobrir Ulaan Battor e zarpar para o c'elebre parque natural de Telej, a 80 km desta cidade imensa onde a pobreza 'e uma realidade mas a paisagem deixa esmagados.
Antes visitamos um Mosteiro e a escola budista da cidade,partilhamos com os monges a primeira parte do rito liturgico, fizemos a visita panoramica 'a cidade e zaparmos para o parque onde almocamos, andamos a cavalo, visitamos o interior de uma Yourts, habitada por uma familia local, onde ali'as nos ofereceram uma bela sobremesa, e depois de termos dado um passeio a p'e regress'amos a cidade onde assistimos a um espectaculo e folclore e jantamos num restaurante frequentado tambem por ocidentais.
Que dia!!!
Estamos todos bem, felizes e com sa'ude.

...mais fotos...





As fotos...





Da Salsa à arte gourmet…

Lembram-se da cabine 3? A arte gourmet da Ana Cláudia vai produzindo as suas «peças».
Tenho muita pena que não vos possa mostrar – não temos tido acesso fácil à Internet...mas asseguro que têm havido muitas e boas degustações…
Ontem à noite também se dançou salsa na carruagem 11 do comboio 362. A Beatriz e o Pedro começaram as suas primeiras aulas de Salsa. O Pedro é o professor e a Beatriz a sua principal aluna – a pista é um corredor que não tem mais de meio metro de largura.
Bastaram os primeiros compassos para surgirem outros mestres e outros discípulos.

A paisagem mudou

Aqui na Mongólia as estepes alternam com uma paisagem envolta por montanhas de pouca altura mas de contornos bem desenhados.
Há cabras que se prendem como ventosas aos rochedos íngremes das montanhas, há cavalos, muitos cavalos espalhados pelas estepes…
É de noite. Infelizmente esta espera interminável a que nos sujeitam neste cerrado controlo não nos permite apreciar com pormenor a paisagem que nos acompanha até Ulaan Batoor.

Chegámos (finalmente) à Mongólia

Para um europeu, cidadão do espaço Schengen, passar a fronteira entre a Rússia e a Mongólia é um desafio à paciência, um hino ao projecto europeu, mas também pode ser um regresso a um tempo que as novas gerações só conhecem através do pensamento produzido pela literatura histórica ou pela análise do pensamento político recente.
Trata-se de facto de uma bela vivência do que são sociedades fechadas, militarizadas, onde a ocupação territorial é o símbolo por excelência do poder político. Não nos esqueçamos que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a ex URSS tinha o seu limite territorial a Este justamente aqui na Mongólia.
Ora, se é verdade que compreendemos a preocupação naquele tempo em afirmar a força pela excêntrica militarização do espaço fronteiriço, hoje, isto parece-nos excessivo, sobretudo agora que as «democracias» prevalecem nos dois países, segundo os seus quadros constitucionais.
Para que possam entender melhor o que vos escrevo, saibam que chegámos à fronteira da Rússia com a Mongólia eram 12:40 locais e saímos já passava das 17:00. Acreditem que fomos primorosamente controlados do lado russo. Nada deixado ao acaso. Tudo visto, revisto, buracos vigiados, (…)
Porquê então mais 4 horas de espera na Mongólia se o comboio nunca parou?

Muito importante!!!

Quando não nos lerem não fiquem apreensivos. A ausência de post só acontece porque a rede no comboio às vezes é muito difícil de ser captada.
Entramos na crosta do mundo…vamos testar a tecnologia…

As (nossas) insónias…

Creio que os nossos sonhos começam a confundir-se com os nossos sonos, projectando o estado de vigília para o plano das infinitas possibilidades do cérebro humano.
Estamos muito para além daqui…O ali é tão longe que nem sabemos dizer…muito perto de atravessar a Mongólia de norte a sul e chegar à China.
Dormimos ao contrário do nosso mundo emocional. Vocês estão aí…e os nossos relógios também!!!
Aos nossos filhos, especialmente à Mariana, ao Jaime e Guilherme, ao Ivo e João Pedro Martins, Anabela e Sarah Pontes, Cármen Oliveira, aos nossos netos, à Beatriz do Schrek, aos nossos pais, irmãos, a toda a nossa família, a todos os nossos amigos, às namoradas e namorados dos nossos viajantes, enviamos um abraço forte, e uma certeza: estamos muitos felizes por estar aqui, convosco! Sem vós nada disto faria sentido.

O jantar da cabine 3

A cabine 3 é ocupada pela Ana Cláudia, Aida e pela Sandra. Não estou segura, porque não tenho acompanhado os talentos criativos de todos os viajantes do transmongoliano, mas ouso afirmar que até ao momento nenhuma foi tão longe na criatividade e na capacidade de enfrentar as limitações inerentes a um espaço em perpétuo movimento onde tudo falta com excepção justamente de uma «geografia de alma»
Neste momento, são 23:10 no comboio, 15:10 em Lisboa, a cabine 3 prepara-se para o seu jantar.
A garrafa de champanhe com que vão acompanhar o caviar que comprámos num fantástico «mercado» em Irkutsk, está lá fora, presa ao comboio, aproveitando o vento cortante da Sibéria – hoje esteve um dia muito frio, chuvoso, embora o sol tivesse despertando quando era suposto estar a dormir…
Mas não contentes com este pequeno requinte, acompanham a mesa impecavelmente posta, pepinos de calda fresca, tomates cereja, pão Baviera, e ainda flutes de champanhe plásticos, verdadeiros hinos ao requinte e á poesia da «literatura de viagens».

De novo no comboio…

Algumas viagens, mesmo as interiores, têm percursos mais sinuosos que outras. Os viajantes do transmongoliano viveram hoje (dia 22 de Agosto de 2007) o seu primeiro momento crítico quando o grupo subiu as escadas do comboio 362, carruagens 10 e 11 rumo a Ulaan Battor e se confrontou com a «pobreza» formal das carruagens.
O comboio russo que nos trouxe de Moscovo até Irkutsk era de facto bem mais moderno, de qualidade (muito) superior, não só ao nível dos materiais, mas também no asseio e aspecto das carruagens.
Mas este primeiro confronto com a «viagem» real durou apenas escassos minutos. Foi num ápice que o grupo deitou mãos aos «dodotes», e em segundos, liquidou odores e ácaros subtilmente impressos nos nossos aposentos.
Tive medo que tivéssemos esgotado o stock dos dodotes. Meus Deus se a Servilimpe nos conhecesse… Mas parece que não, e ainda bem, porque desta vez não há banhos, senão, daqui a dois dias na capital da Mongólia.
Mas não pensem que o grupo cedeu às tentações da burguesia contra revolucionária e asséptica. Não, o grupo não desanimou, bem pelo contrário: leiam o post do jantar da cabine 3…

terça-feira, agosto 21, 2007

Ja no Baikal

Cheg'amos a Irkutsk as 4 da manha de Moscovo, 1 hora da manha em Lisboa. Claro que esta noite ninguem dormiu na nossa carruagem, ou melhor, a maioria de nos nao tera dormido. Os diferentes fusos horarios comecam a causar-nos insonias...
O facto de termos chegado a "terra" deixou-nos a todos mais inquietos. De repente, o banho passou a ser uma prioridade, as casas de banho confortaveis uma necessidade e um bom pequeno almoco uma exigencia. E de facto tudo isto aconteceu. As 11 horas locais, 3 horas da manha em Lisboa estavamos de novo rumo a mais um momento importantissimo da nossa viagem: uma visita ao lago Baikal
O Baikal e o maior lago de agua doce do mundo, reserva uma quinta parte da agua doce de todo o mundo e 80% da agua doce na Russia. E de facto um lago fantastico. Fizemos um cruzeiro de duas horas olhando uma cordilheira de 3 linhas de montanhase nvoltas numa neblina muito tenue apesar de intensa.
Antes visitamos o museu regional do Baikal, e o grosso dos viajantes passeou ainda num magnifico teleferico.
Excelente dia o nosso...
Hoje ate as casas de banho minimas deste hotel pareciam salas de estar esplenderosas. Nada como viver para comparar e escolher.
Amanha darei mais noticias. Estamos muito afadigados vamos dormir.
Entretento deixo a agenda do dia de amanha, 22 de Agosto de 2007:
Visita a cidade de Irkutsk, almoco na cidade, visita ao mercado e partida as 20:00 (locais) para a Mong'olia - Olan Bator.
Queremos que saibam que estamos todos muito felizes. Esta viagem e de facto fantastica.
Voltamos ao comboio para mais dois dias e duas noites.
Um abraco a todos: especialmente aos nossos pais, irmaos, familia e amigos.
E claro um abraco especial aos membros fundadores da Europa Viva e associados.
Hoje faz anos a Secretaria Geral, a Helena Martins: para ela aqui vai um abraco muito especial - Parabens e muitos anos de vida!!!

Tempo psicológico do Baikal

Hoje saímos do comboio 3 vezes. Sair do comboio significa que o nosso comboio, o Baikal, pára entre 15 a 20 minutos nas estações principais do percurso. E o que fazemos lá fora? Bem, uns andam a pé, outros correm, outros como a maioria de nós compram produtos da gastronomia local: os tais tomates, pepinos, groselhas, maçãs, bananas, (…) e claro, tiramos fotografias, muitas fotografias para quando chegarmos partilharmos convosco este nosso tempo em que os nossos corações estão cheios daqueles que amamos mas que não puderam vir connosco.
Nas plataformas, quando a hora do embarque começa a aproximar-se, as senhoras responsáveis pelas nossas carruagens lembram-nos que temos de regressar ás nossas «dachas».
A vida nas nossas «dachas» corre com a normalidade que a adaptação da nossa inteligência opera nestes contextos. Há os que acordam a meio da noite para descobrir na paisagem mais um segredo que a alma num olhar fugaz deixou perder, há outros que aproveitam para conversar com os amigos que trouxeram, há outros que descobrem amigos que conquistaram e ainda há outros que dormem ao «sabor» da embalagem dos carris.
A esta hora, por exemplo, apesar da luz central se ter apagado muitos de nós conversam nos corredores convivendo com aqueles que não pertencem ás suas «dachas».
A maioria de nós está surpreendida com a capacidade de se ter adaptado com tanta facilidade a esta vida cheia de rotinas mas também muito criativa.
Já vi copos a servir de belas saladeiras, pratos de plástico transformados em perfeitas fruteiras, já vi chávenas a servirem belas sopas, e já comi produtos que jamais imaginaria, como uns bolos do Ikea russo, de que nem consigo falar-vos…
Também há «dachas» onde se joga King. Essa «dacha» é conhecida pelo «Casino». Ontem no Casino jogou-se «sueca» quase o dia inteiro…não sei a que horas se deitaram os noctívagos, nem sei mesmo se hoje alguns de nós dormirão alguma coisa…o que sei é que já começamos a ter saudades de deixar o comboio…

segunda-feira, agosto 20, 2007

Quilómetro 5 185

Vivemos há quatro dias num comboio chamado Baikal, linha férrea entre Moscovo e Irkutsk onde percorremos um total de 5 185.
Daqui a 8 horas chegaremos a Irkutsk, a cidade mais importante da Sibéria oriental. Aqui ficaremos 2 dias. Amanhã, quando em Lisboa forem 01:00 do dia 21 de Agosto chegaremos à capital politica da Sibéria. Para nós serão 8:00 de 21 de Agosto. Quando nos quiserem lembrar têm que rodar os ponteiros do relógio para ¬¬¬mais 8 horas.
Tem sido difícil imaginar a Sibéria como o lugar do horror. O que temos visto é muito belo, tão belo que nos vamos perguntando, «estamos mesmo na Sibéria?»
Neste momento são 17:34 no comboio 22:34 lá fora, 14:34 em Lisboa.
O que se pode estar a fazer num comboio a esta hora? Bem, neste momento, acabaram de nos desligar as luzes centrais; com isto querem dizer-nos, ide para as vossas cabines, tranquilizai-vos, porque amanhã, quando no comboio forem 4:00 o sol brilha lá fora e vós tendes de desembarcar, isto é, tendes de regressar a um tempo real e já não psicológico, a Irkutsk.

domingo, agosto 19, 2007

A Sibéria...

As bétulas siberianas estão doentes mas deram-nos neste troço entre Moscovo e Iekaterinbourg uma das imagens mais belas da paisagem siberiana. Num espaço imenso intercalam o verde dos pinheiros e o branco dos troncos das bétulas, sem folhas e muito secas.
Lá fora está calor…estão mais de 30º.
Entrámos oficialmente na Sibéria à 1:49 do dia 19 de Agosto. Para não haver dúvidas a hora que vigora aqui dentro do comboio é sempre a hora de Moscovo, mais 3 horas que em Portugal, mas lá fora o fuso horário que rege o movimento do comboio adiantam os pontos do relógio para 5 horas mais.
Na carruagem 3 do comboio transiberiano 10, os viajantes da Europa Viva almoçam nas cabines respectivas mas já muito longe de serem os seus legítimos locatários.
O nosso agente russo preparou uma ração para cada um de nós, mas o ritual de sairmos nas paragens e comprar produtos gastronómicos locais, é irresistível. Por isso, as ementas variam entre os tomates fresquíssimos que comprámos ontem, os pepinos frescos ou em calda, as maçãs dulcíssimas, o pão de batata que as velhas senhoras cobertas de lenços brancos convidam-nos a consumir.
Já percorremos 3035 km. À medida que o tempo passa vamo-nos esquecendo do tempo real. Iniciámos a caminha pelos vários tempos psicológicos: os das leitura, da musica, das cartas, das conversas, do exercício físico.
Às 9:00 de hoje as senhoras não prescindiram do seu exercício físico justamente neste corredor onde vos escrevo e durante 20 minutos treinaram os movimentos de manutenção. Os alemães foram os únicos que respeitaram os exercícios, por isso, não podendo passar pelo corredor da carruagem 3 viram-nos costas e civilizadamente foram comentando a ousadia das mulheres portuguesas.
Claro que as russas ficam perplexas com a nossa energia. Mas nós não cedemos aos modos eslavos do staff do comboio.
O designer de interiores de cada cabine traduz com todo o rigor a mundividência de cada um dos viajantes…e há de tudo: cabines minimalistas, cabines excêntricas, cabines ecológicas, cabines tipo casino, jogos, vodka, cerveja…
Lá fora o tempo continua quente…a Sibéria ao som de Wagner é sublime.
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