sábado, agosto 30, 2008

Os pijamas de Shangai

Entre a populacao mais velha de Shangai existe um vellho habito: pelas 17:00 vestem os seus pijamas, pegam nos caes e vem para a rua fazer compras.
E um cenario a que nao estamos habituados mas creio que se prende com o facto de os pijamas, feitos de algodao, proporcionarem um sentimento de comodidade muito reconfortante numa cidade onde as tempetaruras medias sao de 3o graus e 100% de humidade.

Shangai - de noite e de dia

24 horas sem parar. A vida e feita de uma continuidade constante e assustadora. Aqui em Shangai nao existe diferencas entre as 00.00 e as 24:00 a nenhum nivel da vida humana e quotodiana. Mesmo aqui ao lado do nosso Hotel, no centro de Shangai, em frente a Bund, assisti a formacao de jovens cabeleiros no turno das 00:00 as 2:00 a.m.

Expo 2010

Observei atentamente as maquetas de Shangai 2010. No Centro de Urbanismo existe uma exposicao completa sobre a Expo 2010 que nos ajuda a compreender as razoes de Shangai estar um verdadeiro estaleiro.
O que fica depois de visitar esta exposicao e sempre a mesma sensacao: a China prepara-se para o futuro e nos europeus temos que nos comecar a preparar para um novo paradigma historico transversal que atravessa a politica, as relacoes internacionais, as relacoes culturais, os referencias historicos e o quotodiano em geral.
Shangai tem uma populacao de 20 milhoes de habitantes. O movimento de carros e de pessoas e infinitamemente maior em Shangai do que em Beijing. Nnenhum investimento e feito em Shangai senao para infra-estruturas publicas.
Os predios com mais de 30 andares ja sao 3000, concentrados numa ilha que serve para surpreender mais do que para satisfazer os valores do urbanismo. Mas os cogumelos de arranha ceus nao param de crescer nem ha essa intencao.
Mas tambem nao ha a ideia de acabar com a cidade velha de Shangai que nos comove e impressiona pela carga humana de que e feita.
Andei pelo bairro velho. A Lena Martins e o Antonio Abreu acompanharam-me. Para alem de nos nao vimos um unico turista.

Shangai - o futuro

Nota: Peco desculpa pela ausencia de acentos e outros grafismos...mas o teclado chines nao da oportunidade de digitar a nossa lingua na sua acepcao plena.
Esta experiencia de chegarmos a uma cidade como Shangai com um tecido social vivo, proprio de cidades feitas por homens, chamou-nos a atencao para a Beijing fantasma e virtual que deixamos e vivemos. Em Beijing parece que vive uma comunidade de homens perfeitos. Nao ha marginais, nem prostitutas, nem toxicodependentes. Quando existem sao imediatamente arredados do espaco publico. Quando se fizer a historia humana dos Jogos Olimpicos de Beijing as historias de vida que se irao contar surpreenderao, seguramente, o mundo.
Aqui em Shangai a sociedade e plural. Ha ricos, pobres, pedintes (nunca vi um pobre em Beijing, como nunca vi um deficiente na Russia)...sente-se que vivemos numa cidade composta pela diversidade...
Dizem os chineses que Shangai vive para consumir. Concordo interiamente. Aqui o consumo e desenfreado como nao existe em nenhuma outra cidade da Europa e mesmo da China. Os jovens entre os 15 e os 25 anos gastam todo o seu dinheiro na roupa, nas marcas e nos produtos de tecnologia.
A maior parte dos jovens trabalha no comercio. Trabalham 12 horas por dia. Tudo o que ganham gastam e gastam apenas em objectos de consumo que vao desde a roupa, ganga, incluindo tenis, a telemoveis, cabeleireiros, enfim...ao glamoroso mundo das brand.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Mercado nocturno de Pequim

Situado num dos pontos mais cosmopolitas da cidade, no bairro onde fica o Hotel que colheu as delegações olimpicas, o mercado nocturno de Pequim é um espaço onde dezenas, senão centenas de vendedores, comercializam produtos tipicos da gastronomia chinesa, como espetadas de cobras e de fruta caramelizadas, gafanhotos fritos, sopas de massa tradicional chinesa, bebidas quentes e frias, (...).
É uma experiencia fascinante...
Uma vez mais se colocam as magnas questões culturais e politcas: o que faria a ASAE se tivesse que actuar neste mercado tão popula em Beijing como qualquer outra actividade chinesa de entretenimento ou gastronomia?

© Ana Paula Lemos

Olhares dissonantes

No oriente, nomeadamente aqui em Pequim, a vida é mais autêntica. As pessoas utilizam os espaços públicos, jardins, monumentos, para entretenimento. No Ocidente, quando queremos fazer exercicio fisico, vamos para um ginásio. Se queremos dançar, procuramos espaços fechados organizados apenas para esses fins. Aqui a Oriente, na China, faz-se exercicio fisico e mental em monumentos de primeira referência nacional, como é o actual Centrod e Artes de Pequim e também se dança no jardim. Os espaços públicos são pensados para usufruto do cidadão.
Ao fim do dia os cidadãos de Beijing saem à rua, dão longas caminhadas pela cidade, brincam com os filhos nas ruas, nos espaços verdes, e gostam de estar nas suas praças. Vivem as suas praças. Lêem, comem, jogam, tiram fotos, e passeiam-se nas suas longas praças.
Claro que a cultura chinesa, marcada pelo confucionismo, ensina os seres a coabitarem plenamente com a natureza interagindo com ela numa relação sacra. Mas quanto a mim, o tipo de vida que os chineses souberam construir, sobretudo neste último século radica mais no facto de serem uma sociedade economicamente austera do que noutro tipo de razão culturalmente profunda.
Ainda hoje os chineses não compram a crédito e mesmo os mais novos, já muito influenciados pela cultura ocidental, têm dificuldade em olhar a organização social e economica do ocidente como a mais conforme com a honra humana.
É uma desonra comprar a crédito na China.

© Ana Paula Lemos

A aldeia olímpica

Tenho passado as noites quentes de Beijing a aprender a estar plenamente num espaço público tal como fazem os chineses.
Já estive num baile de jardim. Vi dançar com tanta perfeição que começei a questionar o modo como nós no Ocidente estamos a importar manifestações de entretenimento tão naturais e tão autenticas e somos capazes de as transformar em pesados cargos mensais, sem rectualizarmos manifestações simples, autenticas e muito economicamente muito baratas.
O cubo, a Piscina Olimpica, é por si só uma peça de arte contemporânea. O cubo de gelo vive da côr, por isso, é de noite que tiramos o maior partido deste monumento consagrado à água. Muitas dezenas de matizes coloridas são emanadas do cubo. Se a cor fundamental é o azul, dezenas de outras, como o rosa velho, o verde, o encarnado, o violeta, (..) preenchem um festival de luz que basta para espreitarmos o estádio Ninho de Passáro, esse sim, perdido na noite, envolto numa neblina diurna e nocturna constantes.

© Ana Paula Lemos

Fábrica 789

Antiga fábrica de armamento da ex RDA a fábrica de componentes electrónicos foi transformada no maior centro criativo de Pequim onde dezenas de criadores contemporâneos fazem obra e apresentam ao mundo segundo uma receita que Nova Yorque ou Berlim já conheceram mas que aqui na China nos transportam para um universo de liberdade rarissimo.
Os melhores criadores de arte chinesa têm a sua galeria na Fábrica 798. Muitos deles, ainda pouco conhecidos no ocidente, mostram uma grande parte da sua obra mesmo nas suas galerias. Outros, os mais conhecidos, já só deixam expostas cópias das suas obras mais representativas.
A Fábrica 789 que a imensa maioria dos chineses não conhece, nem está muito interesada em conhecer, é de facto uma ilha catalizadora de criatividade, onde os mais jovens começam a desempenhar papel essencial de transformação.
Para além de galerias, a Fábrica começa a desenvolver espaços de restauração modernissimos, cafés e restaurantes do melhor design que se produz no mundo e já é o único espaço de cultura alternativa da China.

© Ana Paula Lemos

terça-feira, agosto 26, 2008

Pequim II

Pequim esteve todo o dia coberta por um capacete de poluição que tornava impossivel olharmos a cidade a uma distância superior a 150 m. Quando revemos as fotos que tirámos na Praça Tienamen, ou no Palácio de Verão ou na Cidade Proibida ficamos com a certeza que a trovoada que se abate neste momento sobre a cidade vai permitir-nos seguramente visitar a Muralha da China com outras condições de visibilidade e até de temperatura.
Pequim tornou-se uma cidade muitissimo interessante, cheia de atractivos, uma cidade que se preparou urbanisticamente para acolher essa festa superior do desporto que são os Jogos, que apesar de terem chegado ao fim, continuam a alimentar festivamente o povo de Pequim.
As ruas continuam decoradas com toda a iconografia dos jogos. A Praça Tienamen só agora começa a ser limpa das inúmeras instalações criadas a propósito dos temas olimpicos.

© Ana Paula Lemos

segunda-feira, agosto 25, 2008

Pequim

Deixámos o comboio num momento onde parecia insuportável estar mais um dia num ambiente cheio de pó, deixado pela areia fina do Gobi.
A etapa entre Ulaan Baator e Pequim é de facto a mais difícil a bordo do comboio que liga Moscovo a Pequim. E é a mais dificil por duas razões:
A primeira porque as temperaturas começam a subir depois de passarmos o Gobi e nunca mais voltam a descer;
A segunda razão prende-se com a resistência emocional que sendo traída pela vontade de chegar começa a tornar-se mais vulnerável.
Mas a chegada a Pequim remete-nos para a grande pergunta:
Quando podemos voltar a repetir esta viagem?
A entrada do comboio em Pequim permite-nos ler a dimensão gigantesca desta cidade surpreendentemente cosmopolita.
Pequim tem 3 milhões de carros que aumentam a uma taxa de 10% ao ano.
Pequim tem 17 milhões de habitantes.
Pequim é a cidade mais poluída do mundo.

© Ana Paula Lemos

Gobi – o deserto mongol

Lá fora o deserto de Gobi vai aparecendo mansamente. Saimos de Ulaan Baator à quatro horas e trinta minutos no comboio chinês. Vamos para Pequim onde chegaremos dia 25 pelas 14:30.
Aqui dentro do comboio estamos submersos numa poeira fina, estonteante, tão agressiva que nos seca os lábios e as lágrimas. O Gobi não é um deserto típico. É uma extensa superficie de terra árida que alterna entre uma vegetação rasteira, quase insignificante, com uma vasta extensão de terra decorada de quando em quando com pequenos lagos de água doce e poucos animais que sobrevivem heroicamente às características geográficas desta parte do planeta.
A temperatura alterou-se radicalmente. O frio de Ulaan Baator, à medida que o comboio entra na zona deserta do Gobi transforma-se num bafo incómodo que quase não nos deixa respirar. O vento sopra num crescendo e, com ele, a poeira que em segundos cobre todas as superficies fisicas que nos rodeiam. Tudo está envolto nesta fina neblina que mal nos deixa olhar uns para os outros mesmo aqui neste espaço tão pequeno como o das cabines do comboio.

© Ana Paula Lemos

Mongólia...

As descrições implicam que a linguagem opere várias relações, uma das quais, se prende com o facto de encontrarmos dentro de nós a verbalização racional do que vemos, cheiramos, ouvimos e sentimos.
Nas descrições, os sentidos formatam mas a razão elabora e dá sentido. Aqui na Mongólia é preciso um tempo para que possamos descrever o que vamos observando, cheirando e sentindo.
Não existe no mundo outra paisagem que se assemelhe a esta. Como dizem os cientistas, esta é a paisagem do planeta mais próxima da Lua.
Por outro lado, a paisagem de tão bela anula a acção do homem. Tenho algumas dúvidas que na Mongólia algum arquitecto consiga receitas compatíveis entre natureza e desenvolvimento.
O país alterna a sua paisagem entre a exuberância das cordilheiras montanhosas, intensamente verdes e os vales, onde os cavalos e as ovelhas encontram matéria prima para a sobrevivência.
O país é tão despovoado no deserto do Gobi como é nas mais florescentes cidades ou em espaços onde a água abunda e cobre de colorido toda a paisagem através de milhares de espécies vegetais, animais e florestais naturais onde o homem nunca interviu nem avaliou científicamente.
As montahas rochosas na Mongólia apresentam os mesmos desenhos que os nossos primeiros antepassados poderam observar.
Os yourtes também atravessaram os tempos desde Kan, quando a Mongólia registou para sempre na história, o facto de ter sido a maior nação do Planeta: da China à Hungria, unida pela mão de Gengis Kan.
Os yourtes são tendas redondas, forradas a lã, onde vive a grande maioria do povo mongol na travessia do seu nomadismo.
São as tendas e os cavalos que decoram a paisagem em todo o território, mesmo no Gobi.
Cada tenda é um aglomerado. Podemos ter que percorrer muitos quilómetros para encontrar uma tenda ou um cavalo. Hoje, cada yourte tem à porta um carro ou mesmo uma antena parabólica, embora nada disto altere o modo de vida do povo.

É sempre muito longe do nosso olhar que conseguimos identificar o homem ou os seus vestígios neste país que se gosta de dizer em patrimónios naturais e ecológicos, únicos no Planeta.

© Ana Paula Lemos
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