Hoje saímos do comboio 3 vezes. Sair do comboio significa que o nosso comboio, o Baikal, pára entre 15 a 20 minutos nas estações principais do percurso. E o que fazemos lá fora? Bem, uns andam a pé, outros correm, outros como a maioria de nós compram produtos da gastronomia local: os tais tomates, pepinos, groselhas, maçãs, bananas, (…) e claro, tiramos fotografias, muitas fotografias para quando chegarmos partilharmos convosco este nosso tempo em que os nossos corações estão cheios daqueles que amamos mas que não puderam vir connosco.
Nas plataformas, quando a hora do embarque começa a aproximar-se, as senhoras responsáveis pelas nossas carruagens lembram-nos que temos de regressar ás nossas «dachas».
A vida nas nossas «dachas» corre com a normalidade que a adaptação da nossa inteligência opera nestes contextos. Há os que acordam a meio da noite para descobrir na paisagem mais um segredo que a alma num olhar fugaz deixou perder, há outros que aproveitam para conversar com os amigos que trouxeram, há outros que descobrem amigos que conquistaram e ainda há outros que dormem ao «sabor» da embalagem dos carris.
A esta hora, por exemplo, apesar da luz central se ter apagado muitos de nós conversam nos corredores convivendo com aqueles que não pertencem ás suas «dachas».
A maioria de nós está surpreendida com a capacidade de se ter adaptado com tanta facilidade a esta vida cheia de rotinas mas também muito criativa.
Já vi copos a servir de belas saladeiras, pratos de plástico transformados em perfeitas fruteiras, já vi chávenas a servirem belas sopas, e já comi produtos que jamais imaginaria, como uns bolos do Ikea russo, de que nem consigo falar-vos…
Também há «dachas» onde se joga King. Essa «dacha» é conhecida pelo «Casino». Ontem no Casino jogou-se «sueca» quase o dia inteiro…não sei a que horas se deitaram os noctívagos, nem sei mesmo se hoje alguns de nós dormirão alguma coisa…o que sei é que já começamos a ter saudades de deixar o comboio…