Lá fora o deserto de Gobi vai aparecendo mansamente. Saimos de Ulaan Baator à quatro horas e trinta minutos no comboio chinês. Vamos para Pequim onde chegaremos dia 25 pelas 14:30.
Aqui dentro do comboio estamos submersos numa poeira fina, estonteante, tão agressiva que nos seca os lábios e as lágrimas. O Gobi não é um deserto típico. É uma extensa superficie de terra árida que alterna entre uma vegetação rasteira, quase insignificante, com uma vasta extensão de terra decorada de quando em quando com pequenos lagos de água doce e poucos animais que sobrevivem heroicamente às características geográficas desta parte do planeta.
A temperatura alterou-se radicalmente. O frio de Ulaan Baator, à medida que o comboio entra na zona deserta do Gobi transforma-se num bafo incómodo que quase não nos deixa respirar. O vento sopra num crescendo e, com ele, a poeira que em segundos cobre todas as superficies fisicas que nos rodeiam. Tudo está envolto nesta fina neblina que mal nos deixa olhar uns para os outros mesmo aqui neste espaço tão pequeno como o das cabines do comboio.
© Ana Paula Lemos