terça-feira, agosto 19, 2008

Sibéria – o memorial do esquecimento

Continuo sem perceber as razões pelas quais ainda pouco (muito pouco) se disse e escreveu (relativamente a outros períodos dramáticos da história dos homens) a propósito dos «mortos» da Sibéria.
Neste percurso até à Mongólia escolhi ser acompanhada pelo livro de Colin Thubron, Na Sibéria, uma edição das Publicações Europa América.
Trata-se de um documento excepcional da chamada literatura de viagem. De facto, Colin Thubron percorreu a Sibéria de lés a lés e conhece em profundidade a história da Rússia.
As suas entrevistas a vários presos dos Gulags ou a familiares destes prisioneiros que sobreviveram a esse tempo de fome, escravatura, infâmia e maus tratos, levantam apenas a ponta deste véu imenso que é o drama humano protagonizado por Staline e de toda a sua trupe.
Alexandre III, Czar da Rússia, já em 1870 deportava para a Sibéria. Aliás a linha do Transsiberiano só conseguiu realizar-se, apesar de todas as sua vicissitudes, justamente à custa de mão de obra escrava e/ou prisioneira.
A Sibéria é um lugar à porta do mundo. Do que podemos ver desta janela é que a Sibéria ainda não entrou no mundo como muitas outras regiões da Rússia já foram capazes de fazer.
A Sibéria está velha, apodrece de pé, mas os vagões carregados de gás natural, petróleo e carvão passam por aqui e saem daqui, cruzam-se com o nosso comboio a todas as horas do dia.
Que estranho esquecimento...

© Ana Paula Lemos
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