segunda-feira, maio 05, 2008

Se a Europa Acordar...


A editora Relógio D’Água acaba de publicar mais um livro de Peter Sloterdijk, um dos mais importantes e polémicos filósofos da actualidade.
Desta vez, trata-se de um livro que reflecte a Europa e tem por título: Se a Europa Acordar, Reflexões sobre o Programa duma Potência Mundial no Termo da sua Ausência Politica.
Como todos os livros de Sloterdijk, também este é um livro polémico. O pensamento de Sloterdijk é sempre polémico. Em geral, mesmo que não concordemos com os conteúdos da sua reflexão, os seus livros são imensos «depósitos» de inteligência analítica, indispensáveis a uma análise profunda sobre o nosso tempo e sobre a Europa contemporânea.
Peter Sloterdijk é um filósofo alemão, professor na Universidade de Karlsruhe.

Em anexo ao livro, publica-se uma entrevista de António Guerreiro, ensaísta e critico literário do jornal Expresso a Peter Sloterdijk. São justamente alguns extractos dessa entrevista que vamos publicar no nosso blog em três partes.

1 parte

António Guerreiro (A.G.)O seu diagnóstico do presente da situação europeia leva-o a uma formulação em termos disjuntivos: ou a Europa deixa de se pensar sob a forma politica do Império ou está condenada a representar uma comédia. Parece que neste século a Europa só conheceu encruzilhadas.

Peter Sloterdijk (P.S.) – Depois da II Guerra Mundial, a Europa sofreu as consequências da sua política de autodestruição que marcou a primeira metade do século XX. A Europa perdeu a influência e, com a descolonização, deixou de ser o centro do mundo. A ideia profunda da situação actual é esta: como reformular uma certa grandeza, com voltar a ser um actor importante no teatro do mundo, em termos políticos e económicos, sem cair nos maus hábitos da nossa tradição imperialista?

A.G.Passar do centro a uma espécie de «enclave» foi um grande choque…

P.S. –
Para percebermos porque é que utilizo essa palavra, é preciso começar pela constatação de que a Europa Ocidental, depois da II Guerra Mundial, era uma espécie de protectorado americano. E a Europa de Leste, por sua vez, era uma colónia do Império russo mascarado na forma de União Soviética. Havia assim duas forças mundiais, de natureza imperial, que partilhavam a posse do território europeu, ainda que a parte ocidental vivesse sob um regime mais amável, já que a supremacia americana era muito mais discreta. Vivia-se uma ineficácia política que não era muito maléfica. Mas em 1979 (que eu considero um ano «pivot») começaram os acontecimentos que determinaram o destino da história mundial do final do século XX: foi em 1979 que começou ainda secretamente o declínio da União Soviética , com a invasão do Afeganistão. Foi também o ano em que a política neoliberal começou a desenhar os seus contornos na esfera britânica e se deu a tomada de poder dos islamitas no Irão. Há uma Rússia que ressurgiu no teatro da politica mundial, como uma entidade nacional e não como força hegemónica do grupo imperial que se chama «socialismo real». E, por outro lado, como dirigir e moderar os efeitos da nova politica económica do capitalismo real, que data dessa altura? A seguir à II Guerra Mundial não tínhamos capitalismo puro no planeta, mas uma economia mista, que incluía elementos semi-socialistas. Tanto em Inglaterra como em França grande parte das indústrias-chave eram nacionalizadas.

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