Entrámos na recta final de uma viagem que vai durar 20 dias e atravessa metade do planisfério. Se olhar um mapa mundi repare no itinerário que vamos realizar:
- partimos de uma ponta do continente europeu, Lisboa, a cidade mais ocidental da Europa e vamos até a outra ponta da Ásia, à cidade mais «ocidental» da China, Shangai.
Atravessamos 6 fusos horários, dois continentes, três paises, dois dos quais, os maiores paises do mundo, a Rússia e a China, e só de comboio vamos percorrer mais de sete mil kilómetros.
O transmongolliano é uma viagem mítica e literária. Grandes nomes da literatura universal escreveram sobre este itinerário que nos leva da Europa à Asia: Pablo Neruda, Blaise Cendras, Clolin Thubron, (...).
Talvez o texto mais famoso tenha sido escrito porquem nunca o realizou A Prosa do Transsiberiano, um poema de Blaise Cendras, que os biógrafos deste autor afirmam que é muito provável que Blaise nunca o tenha realizado.
Mas, para quem já pôde realizar esta viagem, como eu, a Prosa do Transsiberiano é o mais precioso tempo literário que conhecemos desta mítica viagem.
E há uma pergunta que Blaise repete constantemente no poema, «..., diz-me, estamos muito longe de Montmartre?» absolutamente essencial para compreender o tempo real e o tempo literário da viagem na prosa.
Num percurso como Transmongoliano, o dramatismo temporal diz-se justamente assim:
«...diz-me, estamos muito longe de...», sim, estamos muito longe de tudo, até de nós mesmos, para quem este itinerário é insuportávelmente indizível.