quarta-feira, janeiro 02, 2008

Homenagem a Homero Serpa

HOMERO SERPA

(morreu um grande jornalista português e um homem de cultura)





A vida é feita de paradoxos. Numa altura tão festiva, o sofrimento mais duro pode estar a abater-se sobre muitos. No último dia de 2007, o falecimento do Homero abateu o espírito de todos os meus: ele não resistira ao peso da doença que o afectava. De imediato, a notícia foi tornada pública pelo jornal A Bola, que sempre foi a sua casa. E a partir daí as mensagens de dor não pararam de chegar de todos os cantos do país, sublinhando a verticalidade, honestidade e generosidade do Homero ao longo de toda a sua vida.
Como seria de esperar, A Bola dedicou-lhe hoje as páginas centrais. Através de uma homenagem sentida e profunda, com depoimentos de homens e mulheres de várias áreas, o Homero recebeu sinceras palavras que certamente o deixariam lisonjeado. Mas ele merecia mais. Porque se preocupava profundamente com tudo o que estivesse ligado à cultura, não só na sua dimensão nacional, mas também local, com o profundo amor que sempre dedicou à sua Belém, que tanto amava. Mas também porque deu toda a sua vida ao desporto – não apenas ao futebol, mas também à natação, ao ciclismo, ao atletismo, entre outros, o que é notável num país que tem uma tendência doentia para confundir desporto com futebol.
Talvez por termos idades tão diferentes, nunca fomos íntimos. Na verdade, foi através das suas crónicas de domingo n’A Bola, que espelhavam toda a elevação do seu pensamento e a ética irrepreensível que o caracterizavam, que melhor fiquei a conhecê-lo. Mas, da minha parte, nunca me esquecerei do prazer que me dava falar com o Homero. Eram autênticas lições para a vida. Ficará para sempre comigo todo o entusiasmo com que vivia uma fase da vida por muitos considerada decadente: todo o seu tempo era dedicado à leitura e à escrita. E apesar do avançar da idade, a sua imaginação não parava de criar novos projectos, porque nunca se mostrava cansado de viver. Foi com o Homero que percebi o enorme prazer que se pode ter em escrever só por escrever, não esperando nada em retorno. E ele acabou por se tornar, sem o saber, o estímulo mais forte para que eu começasse a tentar escrever. Devo-lhe isso. Obrigado, Homero.




Sérgio Hipólito


mestrando Estudos Europeus



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