sexta-feira, julho 20, 2007

O que se diz do Transmongoliano...


«...São necessários mais de dois dias só para sair do continente europeu e entrar no asiático. Com a diferença horária a aumentar rapidamente, é difícil discernir o dia da noite na Sibéria: o sol esconde-se depois da meia-noite e reaparece pouco depois.
Uma hipótese de viagem é fazer todo o Transiberiano com apenas as paragens de quinze a trinta minutos em alguns apeadeiros; outra é abandonar o comboio num desses intervalos e partir em busca das cidades gélidas da Sibéria e voltar a apanhar o comboio um ou vários dias depois.
A primeira cidade digna de paragem é Irkutsk (a cerca de 5100 quilómetros de Moscovo e após mais de três dias de viagem). Envolvida numa atmosfera única, a urbe torna-se interessante pela arquitectura e pela proximidade ao mítico lago Baikal, a apenas 60 quilómetros, cuja grandiosidade atrai milhares de amantes da natureza. O Baikal é o maior lago de água doce do planeta, ocupando uma área de mais de 30 mil quilómetros quadrados (um terço de Portugal) e com uma profundidade máxima que supera os 1600m. A água a perder de vista leva mesmo a que os residentes se refiram a Baikal como um mar. À volta do lago desenvolvem-se inúmeras actividades, oferecidas por alguns operadores turísticos (informações em www.bww.irk.ru ou www.baikalex.com, disponível em inglês).
Ulan-Ude: o primeiro destino asiático
Após uma incursão pelo lago, há que seguir viagem e voltar a entrar no gigante Transiberiano. Seiscentos quilómetros mais à frente, outra boa razão para uma longa paragem: Ulan-Ude. Aqui, o mundo asiático abre as suas portas. É que, apesar de se estar a dois dias de viagem da fronteira entre os dois continentes, só agora os traços e o clima asiáticos começam a impor-se. Uma visita ao Museu de História ou ao Museu Etnográfico pode ser um bom arranque para conhecer a cidade. Há ainda a hipótese de explorar o lado este do Baikal, muito menos turístico do que as margens próximas de Irkutsk, mas tão ou mais fascinante.
A partir daqui podem seguir-se três diferentes rotas: a do Transiberiano, que continua para este por Chita e Khabarovsk até Vladivostok; a do Transmongol, que percorre a Mongólia para sul, por Ulan-Bator até Pequim, na China; e a do Transmanchuriano, que segue por sudeste, passando por Chita e Harbin até Pequim.
Apesar das imprecisões geográficas dadas por Hugo Pratt, deverá ter sido neste ponto que Corto se separa de Jack Tippit, que segue com a duquesa para Irkutsk (o Transiberiano da duquesa percorre na história o caminho de regresso a Moscovo), para ele próprio tentar chegar a Harbin, na Manchúria. Se a vontade não for regressar de comboio ao ponto de partida, então a melhor hipótese poderá ser mesmo abandonar o Transiberiano e seguir por uma das outras duas linhas em direcção a Pequim, uma vez que os transportes para abandonar Vladivostok, quer por ar quer por mar, são maus e muito dispendiosos.
Pelo Transmongol, encontra-se Ulan-Bator, uma cidade que parece saída de um filme dos anos 50: os velhos transportes soviéticos continuam a ser substituídos por versões japonesas mais recentes, mas ainda se encontram vacas e cabras a passearem-se nas ruas e grande parte da população mantém as vestes tradicionais. Se se optar pelo Transmanchuriano, é necessária uma paragem em Harbin, já na China, principalmente se a viagem se realizar entre Janeiro e Fevereiro, altura em que a cidade se enfeita com esculturas de gelo...»

Jornal Público, 13 de Novembro de 2004 - suplemento Fugas (texto não assinado)
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