«No jardim público mesmo encostado ao ancoradoro passei as mais tranquilas e agradáveis horas. É o lugar mais curioso do mundo. Embora tenha uma disposição regular, parece-nos feérico; plantado não há muito tempo, leva-nos para a Antiguidade. Canteiros de bordos verdes envolvem plantas estranhas, pérgolas de limoeiros formam os mais lindos corredores abobabados, as altas sebes de oleandro, adornadas de milhares de flores vermelhas como cravos, atraem o olhar. Árvores estranhas, para mim completamente desconhecidas, ainda sem folhagem, provavelmente vindas de regiões mais quentes, estendem os seus esquisitos ramos. Um banco colocado acima do espaço plano permite abarcar toda esta estranha floração e leva por fim o olhar para os lagos onde nadam peixes dourados e prateados, ora escondendo-se sob canmos musgosos, ora juntando-se em cardume, atraídos por umas migalhas de pão.
As plantas têm todas um verde que nós não conhecemos, ou mais amarelado ou mais azulado que na Alemanhã. Mas o que dava a todo este conjunto a mais exótica beleza era um ar pesado que se espalhava sobre tudo com um efeito tão notório que os objectos, ainda que apenas separados por alguns passos, se demarcavam uns dos outros em tons de azul-claro, de tal modo que a sua cor natural se perdia, ou pelo menos se mostrava ao olhar muito transfigurada em tons de azul....»
Goethe ficou tão fascinado por aquele jardim, que lhe veio à memória a feliz Ilha dos Feácios e «foi logo comprar um exemplar de Homero, para ler aquele sublime canto»:
«Mas quando chegou por fim à ilha longínqua,
trocou pela terra firme o mar cor de violeta,
para que chegasse à grande gruta, onde vivia
a ninfa de belas tranças. E encontrou-a lá dentro.
Ardia um grande fogo na lareira, e ao longe,
por toda a ilha, se sentia o perfume a lenha de cedro
e incenso, enquanto ardiam. Ela cantava com linda voz;
e com lançadeira dourada trabalhava o seu tear.»
Canto V, 55-63 - Odisseia, Homero, Cotovia