O nosso itinerário faz-se por uma linha (o Transsiberiano até à Sibéria) de um comboio de passageiros e mercadorias que se enche de russos, mongóis e chineses, consoante estamos em cada um dos territórios. É com eles que interagimos (ou não) durante uma semana, isto é, justamente os 7 dias que dormimos no comboio.
Da janela vamos escrevendo o mundo e o mundo pede-nos para ficar na memória da história com que vamos sendo feitos.
Nenhum de nós, vem igual, mas também nenhum de nós quis ficar para sempre o mesmo.
É impossível pacificarmos as letras que vão crescendo na alma. O outro, o diverso, é de facto absolutamente diferente. É mesmo outro. Em tudo: na língua, no vestuário, nas convições, nas atitudes, nos sentimentos, na escrita, nas percepções, na música, nos gostos, nos desejos, e sobretudo no modo como lê - FUTURO.
Se estamos na Sibéria, o silêncio é total. Lá fora, não há alma que se aproxime, nem passáro que voe; na Sibéria só as árvores conversam connosco e essas, dessas, a maior parte morreu, faz muito tempo, por isso, pouco temos para contar.
Na Mongólia, a beleza sufoca-nos. O deserto é quente, os cavalos escondem-se nas montanhas durante o dia e só se deixam ver de noite, e nas tendas contam-se histórias como aquelas que terão ajudado Bernardo Carvalho a escrever o livro Mongólia.