Lembro-me da ansiedade a minar a curiosidade quando, finalmente, o comboio vindo da Mongólia, parou na plataforma da estação de Pequim.
No inconsciente, a pergunta teimava em racionalizar o sonho: o que vamos encontrar em Pequim? A cidade que durante 30 anos contactou o Ocidente mostrando-lhe apenas um céu vermelho, homens e mulheres vestidos de verde, Mao teimando falar-nos em cada esquina e lugar, ou algo perfilado entre este cenário e a Praça Tienamen quase libertada?
Surpreendemente nem uma coisa nem outra. Pequim, geográfica e arquitectónicamente, autonomizou-se destes espelhos e criou uma paisagem cheia de elementos culturais ocidentais, ditados pela mais moderna arquitectura assinada pelos maiores arquitectos do mundo.
Estéticamente Pequim é outra cidade. Claro que os Jogos Olimpicos foram o pretexto para esta transformação mas a opcção clara pelos fundamentos da cultura ocidental numa paisagem humana ainda marcada pelos últimos 50 anos, obriga-nos a pensar a estratégia para uma civilização que nunca reconheceu a arquitectura como obra, já que a obra é sempre perene desde que não resulte do sopro da palavra, da caligrafia.
Mas o certo é que a linguagem criativa que domina em Pequim é justamente a Arquitectura e aqui parece que os criadores ocidentais não perderam a oportunidade de virar de pernas para o ar o conceito da Translatio Imperium.
Já em Agosto de 2007 a cidade olimpica estava pronta. Faltava apenas a relva que à força teria de crescer ainda que o tempo a pudesse secar.
Pequim é tema de capa da Revista Le Figaro, Hors-Série. Não deixem de a comprar e ler. É um excelente documento sobre a história recente da Cidade Eterna.
©Ana Paula Lemos