Lembro-me bem: queria explicar o que mais me marcara na India (dessa longa viagem que realizámos com a Europa Viva em Fevereiro de 2007 designada por Rota do Chá pelos caminhos de Agra, Delhi, Sikkim, Calcutta) e só me ocorria a palavra dignidade.
Não tinha suportado o barulho. O imenso barulho que invade as ruas das cidades, vilas ou aldeias indianas, ensurdecedor, violento. O barulho das bozinas (bozine sempre é o anuncio mais lido do urbanismo indiano) é de facto indizível. Não conheço no mundo outra carga tão atrozmente poluente como o barulho nas grandes metrópoles indianas. E, estranhamente, poucos são os viajantes que falam do barulho da India. Não fosse um fóbico que descobrira perdido na mala e seguramente não teria conseguido sair à rua em Delhi ou Calcutta.
Mais do que o cheiro (por onde andei, o cheiro nunca surpreendera o meu olfato) era de facto o barulho, esse grande responsável, por uma estranha relação que desde então, criei com a India. Estou certa que terei feito uma das grandes viagens da minha vida. Intensissima. A India é de uma pluralidade humana, paisagistica, urbana, religiosa e cultural, como não haverá geografia no mundo.
Mas algo na India perturbara-me tão dramáticamente que jamais consegui sublimar a carga humanamente trágica que invade a minha memória sempre que lembro a India.
O que ficou, o que cresce, o que perpétua a minha passagem na India foi a (re)descoberta social do valor da dignididade.
Na India há uma indizível dignidade na pobreza. Na pobreza da mulher que procura infimos pedaços de carvão deixados pelo comboio. Na pobreza do homem que toma banho, nú, mas de costas para a estrada, que liga Delhi a Agra. Na pobreza da mulher que corta as plantas de chá em Darjeeling. Na pobreza do menino que já não suporta a sujidade nem a humidade e que se refresca num esgoto a céu aberto. Na pobreza dos milhares de seres humanos que ao pôr-do-sol invadem as lixeiras de Dheli, Calcutta ou Mombai, à procura dos restos, dos restos que outros seres humanos, num gesto excêntrico, já aprenderam a desperdiçar ou a rejeitar.
Não consigo imaginar o sofrimento, provocado pela miséria, que todos os dias devasta a India. Mas estou certa que nenhum indiano perderá, por isso, a sua dignidade.
Não tinha suportado o barulho. O imenso barulho que invade as ruas das cidades, vilas ou aldeias indianas, ensurdecedor, violento. O barulho das bozinas (bozine sempre é o anuncio mais lido do urbanismo indiano) é de facto indizível. Não conheço no mundo outra carga tão atrozmente poluente como o barulho nas grandes metrópoles indianas. E, estranhamente, poucos são os viajantes que falam do barulho da India. Não fosse um fóbico que descobrira perdido na mala e seguramente não teria conseguido sair à rua em Delhi ou Calcutta.
Mais do que o cheiro (por onde andei, o cheiro nunca surpreendera o meu olfato) era de facto o barulho, esse grande responsável, por uma estranha relação que desde então, criei com a India. Estou certa que terei feito uma das grandes viagens da minha vida. Intensissima. A India é de uma pluralidade humana, paisagistica, urbana, religiosa e cultural, como não haverá geografia no mundo.
Mas algo na India perturbara-me tão dramáticamente que jamais consegui sublimar a carga humanamente trágica que invade a minha memória sempre que lembro a India.
O que ficou, o que cresce, o que perpétua a minha passagem na India foi a (re)descoberta social do valor da dignididade.
Na India há uma indizível dignidade na pobreza. Na pobreza da mulher que procura infimos pedaços de carvão deixados pelo comboio. Na pobreza do homem que toma banho, nú, mas de costas para a estrada, que liga Delhi a Agra. Na pobreza da mulher que corta as plantas de chá em Darjeeling. Na pobreza do menino que já não suporta a sujidade nem a humidade e que se refresca num esgoto a céu aberto. Na pobreza dos milhares de seres humanos que ao pôr-do-sol invadem as lixeiras de Dheli, Calcutta ou Mombai, à procura dos restos, dos restos que outros seres humanos, num gesto excêntrico, já aprenderam a desperdiçar ou a rejeitar.
Não consigo imaginar o sofrimento, provocado pela miséria, que todos os dias devasta a India. Mas estou certa que nenhum indiano perderá, por isso, a sua dignidade.
©Ana Paula Lemos