segunda-feira, dezembro 21, 2009

Ciclo de Cinema e Literatura - Seminário Saber Europa - D. Quixote de La Mancha- Livro de Miguel de Cervantes - Filme de Manuel Gutierrez Aragón

Que dizer sobre um romance como o "D.Quixote"? Este é um daqueles livros que, escrito no longíquo século XVII, se mantém vivo até hoje. O seu carácter universalista torna-o sempre actual e sempre capaz de novas leituras e adaptações. Obra prima da língua espanhola, continua a ser alvo de edições, estudos e traduções, bem como de adaptações cinematográficas, ou de inspiração para outras artes, como a pintura, a escultura, a música ou a ópera. E tudo isto partindo das aventuras e desventuras de certo fidalgo de La Mancha, um pouco entrado em anos, dado mais a leituras de romances de cavalaria do que à administração da sua propriedade, mais disposto a viver uma vida de fantasia do que a enfrentar a realidade, que Miguel de Cervantes criou e cujo o livro começou a ser publicado em 1605. Dom Quixote: um louco para todos excepto para o seu companheiro Sancho Pança, homem rude e humilde, verdadeiro membro do povo, que na sua ingenuidade acompanha o amo, e que vendo o mundo como ele é, vendo moinhos em vez de gigantes, frades em vez de salteadores, pousadas em vez de castelos, fielmente segue a Dom Quixote, mesmo pagando com feridas, fome e tareias essa obediência. Não que Sancho seja parvo: Dom Quixote promete-lhe o cargo de governador de uma ilha, honrarias e moedas de ouro, e é com esse objectivo, o de se tornar igual ao seu senhor, que Sancho permanece constante. Na verdade a crítica de costumes em que Miguel de Cervantes é exímio continua ainda hoje actual: os poderosos vivem em mundos paralelos, têm visões irreais, e os pequenos e simples que percebem melhor o mundo, ainda assim, não confiando em si mesmos, cheios da ambição de se tornarem poderosos, deixam-se levar, sabendo muito bem que vão pagar caro essa escolha.Manuel Gutierrez de Aragón, o cineasta que produziu a versão para televisão de 1991 da qual pudémos ver 2 episódios, transporta para o écran, com muito realismo e humor, a visão crítica de Cervantes, os dois olhares do mundo que ele põe sempre em diálogo e sempre em oposição: o sonhador e idealista por um lado, e o sentido prático e terra a terra, por outro. Coloca-nos no caminho que estes 2 homens tão díspares fazem em conjunto, e torna-nos cúmplices do seu percurso. Também a nossa maneira de viver é hoje feita de contrastes, num equilíbrio difícil entre o sonhado, o possível, a opinião dos outros e a realidade dos dias.

©Maria Alexandra Campos
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