«No que diz respeito à Europa, devemos evitar a todo o custo a boa consciência, dado esta ser sempre uma falsa consciência. O trabalho da memória deve deixar refluir para nós a obsessão das barbáries: servidão, tráfico de negros, colonizações, racismos, totalitarismos nazi e soviético. Esta obsessão, integrando-se na ideia de Europa, faz com que integremos a barbárie na consciência europeia. Esta é uma condição indispensável se queremos superar novos perigos de barbárie. Mas como a má consciência também é uma falsa consciência, o que nos falta é uma dupla consciência. Na consciência da barbárie deve integrar-se a consciência que a Europa produz, pelo Humanismo, pelo universalismo e pela ascensão progressiva de uma consciência planetária, os antídotos para a sua própria barbárie. Esta é a outra condição para superar os riscos, sempre presentes, de novas e piores barbáries. Nada é irreversível e as condições democráticas humanistas devem regenerar-se permanentemente para não degenerarem. A democracia tem necessariamente de se recriar em permanência. Pensar a barbárie é contribuir para a regeneração do humanismo. Logo é resistir-lhe.»
In Morin, E. (2005). Cultura e Barbárie Europeias p. 72-73 (Edições Piaget)