domingo, julho 18, 2010

Texto sobre Surrealismo e Vanguardas - Curso de História do Cinema I -

O Surrealismo enquanto movimento artístico nasceu no período entre Guerras no início do Século XX. Dono de uma estética fascinante, difícil de decifrar, soube trazer sobre si o olhar e o pensamento de intelectuais e anónimos, questionando ainda hoje as noções de arte, vida, lógica e absurdo. Muito influenciados pela teoria psicanalítica de Freud, os artistas surrealistas procuravam provocar e questionar o real, desconstruindo conceitos de bom senso, razão ou narrativa. Para os surrealistas tudo é permitido. Não há necessidade de controlar os impulsos, o pensamento, os gestos.
Tendo sido um movimento muito forte no campo da literatura e das artes plásticas, também no cinema encontramos "objectos" fundamentais para conhecer o Surrealismo. Assim na 7.ª sessão do nosso curso tivemos a oportunidade de ver dois filmes essenciais: "Um cão andaluz" e "A idade de ouro", o primeiro de Luis Buñuel e Salvador Dalí e o segundo realizado apenas por Buñuel após a sua ruptura com Dalí devido a divergências estéticas e políticas. Não há forma simples de descrever estas obras. São provocadoras, violentas, são anti-católicas, anti-capitalistas, desafiam a autoridade qualquer que seja, são caóticas e absurdas. Na verdade não pretendem fazer nenhum sentido mas antes incomodar o espectador, fazê-lo partilhar os sonhos e pesadelos dos autores: há mãos furadas de onde saem formigas, praias cheias de cruzes, burros mortos carregados por padres, mulheres lascivas, vacas deitadas em camas, homens loucos, e toda uma ausência de referências a um tempo ou a um local "compreensíveis". O certo é que estes filmes, talvez por terem sido tão livres e terem ido tão longe nas suas experiências, continuam a influenciar artistas e a deixar-nos a todos perplexos pela sua força e coragem.
No mesmo período, outros movimentos de vanguarda mostravam, por oposição, que tudo pode ter um significado, e que, no que ao cinema diz respeito, a sequenciação de planos pode provocar uma leitura política, e assim conduzir o espectador a uma tomada de consciência, a uma compreensão mais profunda da realidade e à capacidade para tomar opções. O filme de Walter Ruttmann "Berlim-Sinfonia de uma cidade" é uma obra impressionante pela sua capacidade de condensar dentro de si o pulsar da vida de uma cidade como Berlim em 1927. Dividido em cinco actos, podemos através deles viver um dia intenso: há um silêncio e calma iniciais que são apagados pelo movimento das pessoas que saem de casa para os empregos e escolas, passam o dia nos seus trabalhos fabris ou domésticos, fazem as suas refeições sós ou em restaurantes, praticam desporto e usufruem de tempos de lazer ao ar livre, e quando a noite cai, se entretêm em casas de espectáculo, passeiam e vêem os néons e as luzes das ruas. A montagem gráfica, onde linhas e mais linhas se cruzam nos planos, sejam elas dos caminhos de ferro, dos carris dos eléctricos, das impressoras dos jornais, e o ritmo incessante do trânsito, das multidões, dos transportes públicos quase nos tiram o fôlego. As questões sociais são muito prementes e muito presentes nos movimentos de vanguarda, assim como os ritmos da vida moderna, e é isso mesmo que esta obra nos traz: viver na cidade é fascinante, é desafiador, os contrastes muito fortes entre os ricos e os pobres questionam. O que é possível fazer para mudar para melhor?"


©Maria Alexandra Campos
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