quarta-feira, julho 28, 2010

Curso de História do Cinema I - O Construtivismo soviético

As vanguardas de início do século XX tiveram na Rússia um esplendor que começou ainda na época do Czar e que ganhou redobrado fôlego após a Revolução Comunista de 1917. Os dois filmes que tivemos oportunidade de ver nas sessões 9 e 10 são exemplos maiores do movimento estético-político conhecido por Construtivismo, uma corrente que sendo fortemente influenciada pela arquitectura e pelas componentes gráficas e dinâmicas do movimento, pretende também trabalhar a noção de um mundo socialista, mostrando as grandes questões sociais e as soluções da praxis revolucionária.
Assim, pela mão de Sergei Eisenstein acompanhamos a revolta dos marinheiros a bordo de "O couraçado Pomtemkin", filme de 1925, comemorativo da revolta ocorrida em 1905 no navio militar russo homónimo. A personagem principal deste filme é o próprio navio, e os seus marinheiros são peças de um puzzle humano que pretende exaltar a energia e a vitalidade das massas, e ao mesmo tempo o poder da sua força ainda adormecida. Há todo um percurso ideológico que se pretende que o espectador faça através das imagens, e que começa no nojo que os vermes na carne apodrecida (jantar servido aos marinheiros) provocam, até à sensação de injustiça perante a prepotência dos oficiais, à emoção e exaltação do sacrifício de alguns revoltosos pelo bem de todos, à coragem demonstrada pela multidão na cena das escadas de Odessa e ao mais puro horror perante o seu massacre, individualizado nas crianças, velhos e mulheres indefesos. No final, após uma sequência que nos deixa em tensão até ao ultimo segundo, o couraçado passa incólume pela esquadra naval que não o afunda e lhe abre caminho ao grito de "Irmãos!".
O outro exemplo do Construtivismo soviético chegou-nos pelas mãos de Dziga Vertov, que em 1929 filmou "O homem da câmara de filmar". Vertov é um homem interessado num cinema documental e experimentalista, e que se torna num meio de registar a realidade com fins revolucionários. Aqui não temos uma narrativa no formato tradicional mas, à semelhança de "Berlim - Sinfonia de uma cidade", são-nos apresentados os ritmos modernos de diversas cidades e fábricas na Rússia. Há no entanto uma inovação muito interessante: é-nos sempre mostrado o realizador recolhendo as suas imagens, que com humor e muita perícia se torna o actor principal do filme. Na verdade temos 3 níveis de leitura: as imagens de um filme que está a ser feito, o processo de montagem do filme fotograma a fotograma, e por fim a projecção do filme num cinema aos seus últimos destinatários: os espectadores... É um filme entusiasta em relação à transformação das classes e onde a realidade é recolhida sem qualquer controlo, com o objectivo de ser posteriormente debatida, analisada e servir de instrumento revolucionário. O realizador e a sua câmara são um "olho" que absorve e regista a realidade, e que a (re)constrói para nós, tornando-a assim mais real e mais próxima."

© Maria Alexandra Campos




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