segunda-feira, abril 26, 2010

Como nasceu o cinema? Curso História do Cinema I


No princípio havia o desejo da memória. Ir mais além do que o retrato pintado por um artista ou que a narrativa dos painéis religiosos gravados. Reproduzir fielmente o mundo que os olhos nos dão a conhecer. E essa ânsia aguçou o espírito de muitos estudiosos que numa súmula de saberes acumulados inventaram a fotografia como a conhecemos, em meados do século XIX.
Mas o homem é insatisfeito por natureza… A curiosidade levou-o a descobrir a possibilidade da reprodução do movimento: uma multiplicidade de fotografias, mostrada numa sequência, com intervalos suficientes entre si para que o olho as veja como um contínuo: eis o cinema!

Na primeira sessão do nosso curso de História do Cinema pudemos apreciar uma série de pequenos filmes feitos pelos primeiros criadores da “magia” da sala de cinema: dos irmãos Auguste e Louis Lumiére vimos cerca de 15 curtíssimas metragens (com um ou dois minutos cada) que mostravam cenas do dia a dia dos autores (a saída dos trabalhadores de uma fábrica, uma partida da estação de comboios, uma rua movimentada) ou encenavam pequenos episódios como dar a papa ao bebé ou as agruras de um jardineiro a quem alguém pregava uma partida. De Georges Méliès o fantástico “A viagem à Lua”, entre outros filmes, é já uma história mais elaborada, e onde o cinema se assume também como um divertimento cheio de efeitos especiais, cenários trabalhados, e muita fantasia. Ainda não existe som para acompanhar a projecção mas isso não impede a criatividade do autor.

E na segunda sessão um salto de gigante: aterrámos directamente em “O nascimento de uma nação”, um filme de 1915, realizado por D.W.Griffith, cineasta americano, mestre capaz de criar um épico, uma narrativa multidimensional, onde a acção é contada de uma forma muito moderna, cheia de camadas. O filme parte de um romance de Thomas F. Dixon, Jr., sobre a história de duas famílias, uma do Norte e outra do Sul aquando da Guerra de Secessão na América. E Griffith tanto nos transporta para momentos históricos marcantes, reproduzidos como “facsímiles”, como seja a capitulação do Sul, o assassinato do presidente Lincoln ou a primeira sessão do Parlamento após a eleição de deputados negros, como nos emociona com a separação dos amigos que os acontecimentos colocam em lados opostos das barricadas, com as notícias da morte do filho mais novo ou a delicadeza do momento do regresso a casa do filho mais velho após o fim da guerra. Filme muito polémico, carregado de uma forte posição política, transporta sem dúvida um elemento racista, moralista e justificador dessa milícia chamada Ku Klux Klan, nascida nos Estados do Sul no caos posterior à vitória do Norte. É simplesmente brutal e admirável o modo como todos estes fios são tecidos, produzindo no final um filme que convida à reflexão e à discussão de ideias!




©Maria Alexandra Campos
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