O tambor – Livro de Gunther Grass – Filme de Volker Schlondroff
“O tambor” é uma obra que não deixa ninguém indiferente: quer o romance quer o filme, ambos polémicos, se encontram unidos por uma voz muito própria, muito irónica e simbólica.
O autor da obra, Gunther Grass, nasceu em Danzig, Alemanha (actualmente Gdansk, Polónia) em 1927, e teve uma vida atribulada, tendo sido ferido em 1945 (quando pertencia às SS – revelação tardia que a muitos chocou) e preso pelos aliados. Posteriormente trabalhou em minas, estudou desenho e escultura e acabou por ingressar no Grupo 47, um grupo de intelectuais alemães de finais dos anos 50. Em 1959 publicou o seu primeiro romance “O tambor” e iniciou uma prolífica carreira de escritor e ensaísta, tornando-se este livro num dos grandes romances europeus do século XX, retrato quase surrealista da Alemanha no período 1925 a 1950, onde são dissecados os pequeno burgueses, pretensamente indefesos mas coniventes com a ascensão meteórica da ditadura e do terror.
O nosso protagonista, Oskar, a quem é oferecido um pequeno tambor no dia do seu 3º aniversário, decide a partir dessa data, parar de crescer. Há uma recusa consciente do mundo, associada a uma relação exacerbada de dependência do brinquedo, uma recusa do mundo dos adultos e das suas intrigas e duplicidades. Os anos vão passando e Oskar, sempre com o aspecto exterior de um menino, vai acompanhando as alterações políticas e sociais do seu país: Alfred, o pai que se torna membro do partido nacional socialista, a mãe, Agnes, prisioneira de uma relação sem futuro com o amante Jan (possivelmente o pai biológico de Oskar), subitamente abatida pela consciência do erro e da culpa, a perseguição aos judeus espelhada na morte do atencioso vendedor de brinquedos, a ascensão da intolerância que lhe faz confundir o Pai Natal com os homens do gás que tudo queimam. Oskar também muda, ainda que de modo subtil: apaixona-se perdidamente, participa no esforço de Guerra juntando-se a uma trupe de anões, “gente pequena” como ele e que precisa de sobreviver no meio da barbárie. Está presente no dia em que começa a 2ª Grande Guerra, 1 de Setembro de 1939, na invasão da Polónia pela Alemanha, e assiste à morte de Jan, funcionário da estação dos correios. Está presente também no dia D, na invasão da Normandia e foge da frente regressando à sua cidade Natal. É somente após o final da Guerra e da invasão pelos aliados, no dia do enterro de Alfred, que Oskar aceita finalmente tornar-se homem e revoltar-se, assumindo o seu papel na história e as consequências de ser senhor de si.
Toda esta loucura, ponteada por diversos episódios caricatos e grotescos é passada para o grande écran por Schlondroff, em 1979, com um filme que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes (ex-aequo com “Apocalipse Now” outra metáfora da guerra e da loucura humanas), entre outros prémios. Muito influenciado pelo expressionismo e procurando numa abordagem pouco real, encenada, metafórica, atingir as verdades mais profundas, dá-nos um filme quase onírico, onde desfila a própria História da nossa Europa, como se de um circo ou de uma parada carnavalesca se tratasse. E que pelo incómodo que causa nos deixa a pensar.”
“O tambor” é uma obra que não deixa ninguém indiferente: quer o romance quer o filme, ambos polémicos, se encontram unidos por uma voz muito própria, muito irónica e simbólica.
O autor da obra, Gunther Grass, nasceu em Danzig, Alemanha (actualmente Gdansk, Polónia) em 1927, e teve uma vida atribulada, tendo sido ferido em 1945 (quando pertencia às SS – revelação tardia que a muitos chocou) e preso pelos aliados. Posteriormente trabalhou em minas, estudou desenho e escultura e acabou por ingressar no Grupo 47, um grupo de intelectuais alemães de finais dos anos 50. Em 1959 publicou o seu primeiro romance “O tambor” e iniciou uma prolífica carreira de escritor e ensaísta, tornando-se este livro num dos grandes romances europeus do século XX, retrato quase surrealista da Alemanha no período 1925 a 1950, onde são dissecados os pequeno burgueses, pretensamente indefesos mas coniventes com a ascensão meteórica da ditadura e do terror.
O nosso protagonista, Oskar, a quem é oferecido um pequeno tambor no dia do seu 3º aniversário, decide a partir dessa data, parar de crescer. Há uma recusa consciente do mundo, associada a uma relação exacerbada de dependência do brinquedo, uma recusa do mundo dos adultos e das suas intrigas e duplicidades. Os anos vão passando e Oskar, sempre com o aspecto exterior de um menino, vai acompanhando as alterações políticas e sociais do seu país: Alfred, o pai que se torna membro do partido nacional socialista, a mãe, Agnes, prisioneira de uma relação sem futuro com o amante Jan (possivelmente o pai biológico de Oskar), subitamente abatida pela consciência do erro e da culpa, a perseguição aos judeus espelhada na morte do atencioso vendedor de brinquedos, a ascensão da intolerância que lhe faz confundir o Pai Natal com os homens do gás que tudo queimam. Oskar também muda, ainda que de modo subtil: apaixona-se perdidamente, participa no esforço de Guerra juntando-se a uma trupe de anões, “gente pequena” como ele e que precisa de sobreviver no meio da barbárie. Está presente no dia em que começa a 2ª Grande Guerra, 1 de Setembro de 1939, na invasão da Polónia pela Alemanha, e assiste à morte de Jan, funcionário da estação dos correios. Está presente também no dia D, na invasão da Normandia e foge da frente regressando à sua cidade Natal. É somente após o final da Guerra e da invasão pelos aliados, no dia do enterro de Alfred, que Oskar aceita finalmente tornar-se homem e revoltar-se, assumindo o seu papel na história e as consequências de ser senhor de si.
Toda esta loucura, ponteada por diversos episódios caricatos e grotescos é passada para o grande écran por Schlondroff, em 1979, com um filme que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes (ex-aequo com “Apocalipse Now” outra metáfora da guerra e da loucura humanas), entre outros prémios. Muito influenciado pelo expressionismo e procurando numa abordagem pouco real, encenada, metafórica, atingir as verdades mais profundas, dá-nos um filme quase onírico, onde desfila a própria História da nossa Europa, como se de um circo ou de uma parada carnavalesca se tratasse. E que pelo incómodo que causa nos deixa a pensar.”
©Maria Alexandra Campos