Um dos projectos da Europa Viva, o Europa em Movimento, www.europaemmovimento.eu, inclui justamente dois itinerários na Russia e sobre a Russia. Um, o Comboio de Ana Karenina, é um programa de raiz literária, que liga duas cidades, Moscovo-S.Peterburgo, e visa sobretudo, contextualizar a cultura russa na geografia europeia. O outro programa, a Rota da Memória, os totalitarismos do século XX, do qual faz parte o transmongoliano, obriga-nos a um exercicio de memória sobre o passado recente da actual Federação Russa, levando-nos a percorrer de comboio e durante 6 dias uma parte substâncial do território Russo.
Os associados e amigos da Europa Viva que fazem estes projectos ficam a conhecer relativamente bem a Russia contemporânea e transportam na memória alguns quadros históricos e sociais da sua história recente.
A Russia é o maior país do mundo. Demoramos mais tempo a atravessar a Russia (de Moscovo a Irkustk) do que a ir da Sibéria a Pequim de comboio. Quem conhece Moscovo e S.Peterburgo constata o quanto a sociedade russa se abriu ao mundo na última década e avalia no terreno a ansiedade do povo russo em voltar a ocupar um lugar na História, agora que as convulsões económicas e sociais provocadas pela desagregação do império comunista parecem ter suavizado.
Os russos não se sentem europeus nem suportam que os entendamos como parte da cultura europeia. Não foi por acaso que S.Peterburgo (Leninegrado), a mais europeia de todas as cidades russas, foi absolutamente esquecida (e ainda bem) na construção da geografia de alma do homem soviético. Na construção do «homem novo soviétivo» não coube a alma europeia.
Por isso, quem sai de Moscovo e atravessa o país real vê-se imerso numa paisagem geográfica e humana profundamente desoladora, sem sintomas de futuro, absolutamente estática, e dissonante dos actuais protagonistas mundiais do nosso tempo.
Sabemos bem o papel que a Federação Russa desempenha a nível mundial na produção das energias fósseis. A Russia produz o mesmo numero de barris de petróleo que a Arábia Saudita, a única diferença, explicava Nuno Ribeiro da Silva, especialista em energia, no Expresso da Meia Noite (sic-noticias, 2007.Out.26) é que a Russia consume grande parte do petróleo que produz. E sabemos igualmente o papel fundamental que a Russia desempenha na questão europeia da produção e consumo do gáz natural.
O que a maioria das pessoas não conhece, e isso estou certa, é a Russia profunda, a Russia dos homens e das mulheres que sobrevivem na Sibéria profunda, teimando vencer a tirania da geografia natural, e já tão perto da Euro-Ásia.