Os retratos são humanos. Há homens e mulheres que se juntam a nós, e nós a eles, para juntos, atravessarmos os milhares de quilómetros que nos levam a percorrer um itinerário de lendas e narrativas.
Rússia, Mongólia e China…
São homens e mulheres tão excessivamente normais que irrompem na tela das imagens filmadas como ícones dum tempo historicamente absurdo.
É o mundo. O mundo cheio de pluralidades, de perplexidades, o mundo da biodiversidade, das «florestas boas e más», o mundo do oculto, onde os homens ainda valem pouco, tão pouco, que nos esquecemos deles em carruagens cheias de histórias, de lentas e terríveis histórias.
Homens e mulheres de dentes de ouro, de alfabeto seco, de vestuário rudimentar, para quem o sacrifício ainda é um meio, um modo, um instrumento, um ponto de partida, um modo lento de partir, mas fundo, profundo, como o Baikal.
O transmongoliano é um itinerário humano. De nós, homens de histórias lendárias num diálogo ambivalente, de cabine em cabine, mas sempre connosco, com a alma quase a desintegrar o corpo, porque lá fora, o sempre novo rouba-nos a possibilidade de racionalizar a história do itinerário, só ficando o itinerário histórico do privilégio, de sermos tão poucos a fazê-lo, e vivê-lo, mas a sabê-lo dizer pão pouco, e sempre concentrados no outro, na paisagem, sempre a paisagem, às vezes monótona, como a siberiana, outras vezes, tão virgem como a mongol, e outras, tão humana, como a chinesa…
É o comboio da história dos povos. Dos povos grandes, de impérios e de imperadores, de tragédias, e de sinfonias carregadas de dor.
Mas este comboio é sobretudo um fantástico itinerário de alma.