sábado, fevereiro 27, 2010

Da Índia...

As últimas horas, as últimas rupias, o último passeio. Como se fosse possível não voltar. Do bairro das fontainhas de Goa para a praia de Juhu em Mumbai. Um momento de pura generosidade. Dentro do avião deixo as últimas palavras desta viagem em solo indiano. Até já! Obrigada EuropaViva por mais esta experiência interior!
Ana Claudia Gonçalves

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Da Índia...

Voamos em direcção ao Sul, ao longo da costa do Conção. Sobrevoamos o dote de Carlos II a Catarina de Braganca, em 1662. Soa estranho, mas falo de Bombaim, agora Mumbay. O sol passou para o outro lado mas deixou um rasto cor de fogo, uma chama que se esvanecia tal como a presenca portuguesa no territorio que nos propomos visitar - Goa.
As diferenças foram de imediato notadas. Faltava a intensidade das buzinas de Delhi, a confusão de Amritsar, a sujidade de Varanasi. Pontuavam o verde dos coqueiros e das varzeas uns pontos brancos que depois de focados eram identificados como igrejas, colegios, cruzeiros, santuarios...a cruz e Nossa Senhora, em multiplas expressões de devoção, substituiam Ganesh, Hanuman, Bhrama, Shiva ou Vishnu ainda que pudessem ser encontrados lado a lado.
A conferência teve lugar no St. Xavier Institute, um prestigiado colegio de investigação histórica de Jesuitas em Goa. A exposição de Angelo da Fonseca (1902-1967), ali patente, ilustrou dignamente a conferência que ouvimos ao mostrar figuras cristãs com gramáticas plasticas hindus (cor, formas, expressões,...). O onus, dizia- nos o Pe. Mendonça, que nos falou num muito claro português, estava do lado dos cristãos que podiam fazer mais para se aproximarem das outras religioes dando o exemplo da festa de S. Francisco Xavier adoptada por todas as religiões enquanto poucos cristãos participam nas festas hindus ou muçulmanas.
A velha cidade de Goa, conquistada definitivamente por Afonso de Albuquerque, faz este ano 500 anos, foi outro ponto alto da nossa visita. Esta cidade que no seu auge (meados do sec. XVI) teve cerca de 200 mil habitantes e era comparavel a Londres em população e a Roma pela densidade de casas e Ordens Religiosas instaladas e patrimonio mundial e manteve o que hoje podemos observar graças à devocao dos goeses, contra a destruição implacavel das monções e dos açoreamentos do rio Mandovi.
Percorremos um interior verde onde ainda se preserva a identidade do território e das populações para acabarmos na costa, mais conhecida, projectada internacionalmente e descaracterizada. A praia de Colva, chegamos no momento exacto em que o sol encarniçado sumergia no oceano.
Em Portugal devia ser hora de almoçar.
Hoje deixamos Goa e a Índia. Vamos todos mais ricos, vivemos passos importantes da nossa historia pessoal de uma forma individual e colectiva que com certeza vão contribuir para olharmos o mundo de outra forma.
Ângelo Silveira

Seminário Permanente Saber Europa 2009 - 2010

3 de Março: Conferência de Guilherme Oliveira Martins às 19:00 no Espaço Europa Viva - A Europa Cultural

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Da Índia...

O dia foi "livre" como se os outros dias tivessem sido "presos". E não foram nada presos!!! O dia foi livre para me perder numas mãos de massagem, livre para vaguear pelas ruas da cidade, livre para exercitar a disciplina do consenso, livre para fugir de repente para a praia. O dia foi livre para lentamente começar a ouvir o verbo num tempo diferente - "esta viagem FOI...". Mas a viagem ainda não acabou, está muito longe disso. Porque esta viagem É daquelas em que alma fica, por muito tempo depois de partirmos.
Ana Claudia Gonçalves

Da Índia...

Em Goa a vida deixa-se viver lenta. Fazemos as horas entre verdes e especiarias, salpicadas de igrejas brancas e ruas com nomes portugueses. Os jesuítas falam do ténue equilíbrio das cedências políticas. Casas coloniais guardam memórias recitadas por gentes intemporais. O dia acaba de pés molhados nas águas quentes do ...Mar Arábico. Amanhã há mais. Como eu entendo os que tardaram em partir...
Ana Claudia Gonçalves

Da Índia...

Foi um programa preparado por um grupo de jovens de diferentes religioes, que estudaram dança em diferentes partes da India, apresentado num palco improvisado de um colegio catolico de Varanasi com a imagem de N. Sra. ao centro, um quadro pintado por criancas com os common birds da India na parede e dois biombos com o homem aranha a separarem os bastidores. Na assistencia os viajantes da Europa Viva, as irmas e algum pessoal do colégio, o Bispo emerito e o actual bispo de Varanasi. Do programa constavam os dois épicos indianos narrados e uma representação da vida de Cristo com o esquema, os trajes e a musica da danca indiana, sendo o papel de Jesus representado por uma mulher. Esta amálgama performativa foi a metáfora que procurávamos para caracterizar este subcontinente e em particular esta cidade sagrada da religião de 80% da sua população - o Hinduísmo.
O Hinduismo em Varanasi e muitas coisas entre as quais a festa, a fruição, a continuidade e a harmonia entre o homem e tudo o que o envolve, incluindo a morte. Diante da pira que arde com o corpo não se ouve choros mas um profundo silêncio que acompanha a alma que se acredita por ser ali cremada vai directamente ao sublime, prescindindo de reencarnar.
Cidade crua, onde passamos o nascer e o pôr do sol na barca (evocação que tantas vezes me soou profética...) a assistir ás cerimonias pessoais e colectivas que decorrem nas margens do rio evocativas dos Deuses. Terra, Ar, Água, Fogo, Sol, Lua, Vento - os elementos convocados para a festa que dá sentido ás suas vidas e que tantas vezes corrige o sentido das nossas. Nao são cremados, antes lançados ao rio sagrado, os corpos das criancas com menos de 15 anos, os corpos das grávidas, dos sadhus, de quem foi mordido por serpentes ou dos doentes de lepra. Uns porque se acredita que podem ainda voltar à vida, outros porque podem assim alimentar outros seres vivos e, outros, ainda, porque assim não são contaminadores.
Nesta cidade frenética como uma feira popular hã uma importante universidade hindu onde fomos ouvir a conferencia sobre o Hinduísmo. Sao 5 km2 de faculdades num campus universitario onde nada falta e que já deu alguns premios nobel para a India.

Ângelo Silveira




quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Da Índia...

Chegada a Goa, a pele amolece numa ternura tropical. Ainda que a noite esconda o matiz da terra, o estar sente-se diferente. Mais uma Índia, diferente de todas as outras, dorme agora um sono de rede. Amanhã vou sentir o espanto dos portugueses de outrora.
Ana Claudia Gonçalves

Da Índia...

Ontem (22 de Fevereiro de 2010) o Ganges recebeu-me para assistir ao nascer e pôr do sol. A labiríntica cidade velha tece em cada esquina um assombro. As velas que ardem no rio levam votos às flores. Ao fim da tarde celebra-se em agradecimento o dia que passou. Todos os dias, os mesmos rituais de fé. Hoje rumo ao Sul.
Ana Claudia Gonçalves

Ópera, um Itinerário Europeu - Viagem a Itália - 2010

http://www.europaviva.eu/news/201002_Opera/

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Seminário Permanente Saber Europa 2010 - 2011

O tema do Seminário Permanente Saber Europa de 2010 - 2011 é dedicado aos Mitos da Cultura.
Começamos a 14 de Outubro com o tema:
Perséfone e o Eterno Retorno coordenado por Luís Mendonça de Carvalho*
Neste módulo estudaremos algumas das mais emblemáticas interacções desenvolvidas entre os Gregos e as Plantas, nativas ou exóticas, ao longo de 3.000 anos - desde os alvores do Período Micénico ao ocaso de Bizâncio e focaremos a nossa atenção em aspectos múltiplos dessa interacção, como a cosmogonia, a arquitectura, o comércio ou as ciências maturais.
*Biólogo, Mestre em Fiosiologia e Bioquímica de Plantas (Univ. Lisboa), Doutor em Biologia (Univ. Coimbra)
Director do Museu Botânico de Beja
Professor no Instituto Politécnico de Beja
Investigador no Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência (Universidade de Évora)
Visiting Scholar (Harvard University - Graduate School of Arts and Science)

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Da Índia...

De Amritsar para Varanasi. Das peregrinações dos siques para os rituais de morte hindus. O ar respira-se denso, talvez pela energia da morte. Os corpos que dançaram a história, também de Cristo, num corpo de mulher. Uma sala de aula como palco. O simbólico da Índia no seu melhor!
Ana Claudia Gonçalves

Calendario Seminário Saber Europa...Março

3 de Março - 19:00 - Espaço Europa Viva - Europa Cultural - Guilherme Oliveira Martins

11 de Março - 19:00 - Espaço Europa Viva - Virginia Woolf – o romance como corrente da consciência

Da Índia...

A viagem que prometia ser longa e cansativa, acabou por ser bem passada e Amritsar é daquelas cidades que não tendo nada tem, no entanto, a força da sua posição geográfica na nossa mente. Com efeito, o Paquistão, está ali ao lado e isso mesmo lembravam os sucessivas campos militares que vimos pelo caminho. A paisagem, de resto, não difere muito das imagens que diariamente nos chegam do Afeganistão e do Paquistão pelas televisões de todo o mundo. Uma coisa era evidente e destinguia Amritsar das restantes cidades que visitámos. Em Amritsar os homens usam turbante porque não cortam o cabelo e este é apenas um dos cinco símbolos da sua religião. Os outros são a pulseira, o pente de madeira, a espada (pequenina ou gravada no pente) e umas calças interiores. Estamos no Punjab, a terra dos Sikhs e a terra mais martirizada durante a partilha da India. Ali morreram mais de 6 milhões de pessoas e ali mudaram de casa mais de 10 milhões num dos maiores martiricídios da história contemporânea. Tantas evocações que contrastam com o langar do Templo Dourado - essa cozinha aberta a todos onde os tachos são maiores que os caldeirões do Asterix. Ali se servem diariamente milhares de refeições e todos são convidados a ajudar e a comer do mesmo, sem distinção ou reverencia. Palavra feita acção com simplicidade e profetismo. Lugar fotogenico para os olhos de dentro e de fora. O templo brilha no meio do lago e à noite podemos assistir à procissão do livro sagrado. Um publico de velhos e novos , de homens e mulheres que em gestos simples mas profundos reconhecem e agradecem Deus.
Na fronteira, o clima não era de recolhimento e mais parecia estarmos em Bolywood. Com aparato e com musica desfilaram as guardas dos dois paises, desta vez e, por coincidência, com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros da India.
O que leva estas duas nações a acicatarem na fronteira com moles imensas de povo o seu primário nacionalismo, fazendo dele curiosidade ou mesmo atracção turistica?
Ângelo Silveira
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